30/07/2008

39- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

Regina Vater. Nós. 1961


Arte e Metafísica:
entre o dizível e o indizível

Por Sanzia Pinheiro, Jean sartief e Afonso Martins


Expandir territórios de saberes e áreas de conhecimento é algo cada vez mais comum em um mundo marcado pelo desenvolvimento das novas tecnologias e complexificação da sociedade. Esse foi o exercício realizado durante o Simpósio de Arte e Metafísica, realizado de 21 a 25 de julho em Aracaju/SE. Sob a coordenação do Professor Cícero Cunha Bezerra, o evento envolveu estudantes de artes e filosofia, artistas, professores, pesquisadores e o público em geral.


A artista Regina Vater instigou à reflexão a partir da metafísica contida em suas obras que são verdadeiras metáforas visuais que colocam em cheque nossa visão de mundo. Manipulando símbolos arquetípicos que vão desde da cultura afro brasileira, as raízes indígenas das Américas até à ícones do Ocidente como John Cage ou mesmo fazendo referência aos grandes gênios da arte como Marcel Duchamp. Na elaboração de sua poética, realiza comentários que põe questões que abordam, de modo profundo, a política, a ética e principalmente a religiosidade.


As obras de Lundberg, joga com a realidade a partir de elementos da Filosofia Budista. Sua arte está no limite entre objetos reais e imagens projetadas. Dessa maneira o artista, longe do naturalismo, atinge de maneira enfática, o mundo invisível, que construímos na nossa interioridade, ao mesmo tempo em que amplia o campo visual do espectador questionando o modelo mental reducionista “Concordo-Discordo”. O jogo que Lundberg propõe é uma bricolagem que ao provocar questionamentos no espectador do tipo “aquilo que vejo é real” lança a verdade dos limites que nos definem como humanos.


Bill Lundberg e Regina Vater realizaram oficina de vídeo, cuja preocupação foi a desconstrução da visão de mundo linear, pela via do estranhamento. Os vídeos apresentados se estruturam segundo a linguagem cinematográfica herdeira de Dizga Vertov. Os vários fractais visuais são conectados segundo, como diria Peirce, à observação colateral de cada um, ou seja, às relações que o espectador é capaz de estabelecer, fugindo assim, da narrativa comumente encontrada na produção videográfica que, em sua maioria, está dada no roteiro.


A associação dos artistas plásticos sergipanos participou do diálogo através de uma coletiva de Artes Visuais exposta no espaço Cultural e Artístico (CULTART). Sanzia Pinheiro, escritora dessa coluna, teceu comentários sobre a potencialidade de sensibilização da arte e a possibilidade dessa ser eixo aglutinador das atividades curriculares escolares. Os estudantes não levantaram apenas questões na condição de público, mas participaram da mesa redonda intitulada Arte e Sacralidade. Vanessa Lacerda, Tiago do Rosário e Ana Mércia, alunos da Graduação em Filosofia da UFS, expuseram as relações entre mística medieval e estética negativa nas obras de Kandinsky, Rothko e Dionísio Pseudo Areopagita.


A mesa redonda Arte, Linguagem e conhecimento, compostas pelos professores Cícero Bezerra, Eduardo Gomes e Alexandre Meyer, professores do Departamento de Filosofia da UFS, problematizou a arte como linguagem, a arte como campo específico frente ao conhecimento e seus limites epistemológicos e a arte como acesso ao invisível, transcendendo os limites da racionalidade.


Talvez possamos afirmar aqui que, o Simpósio Arte e Metafísica, contribuiu, nesse tempo de cegueira causado pelo excesso de luz, ao expor a treva, o negro, com um campo fértil à criação, a imaginação. Mais que isso, pensar uma experiência mística em conexão com o desenvolvimento técnico-racional que nos circunda, pela via da arte e da filosofia, é um modo interessante de reintegração do espírito humano a ordem cósmica e ao restabelecimento de sua inteireza.


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Edital - Mostras de Foto - galerias Lunara e dos Arcos - Porto Alegre/RS - 2009A Galeria dos Arcos e a Galeria Lunara (RS), recebem inscrições de 25/08/08 a 12/09/08 de exposições fotográficas em 2009. Mais www.portoalegre.rs.gov.br/cultura
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As inscrições para o Prêmio Vivaleitura 2008 foram prorrogadas até o dia 25 de julho. A premiação - que visa destacar projetos que incentivam e desenvolvam a leitura entre crianças, jovens e adultos - vai distribuir cerca de R$ 90 mil aos vencedores. Estão abertas até 31 de julho as inscrições ao Concurso Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular edição 2008. Mais http://www.cultura.gov.br/

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Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural para viagens do O Ministério da Cultura. O Programa destina-se a artistas, técnicos e estudiosos da área cultural, convidados a participar de eventos fora do seu local de residência, no Brasil e no exterior, para apresentar trabalho próprio, fazer residência artística ou curso de capacitação de profissionais da cultura. Mais http://www.cultura.gov.br/

25/07/2008

38- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA


APIC – ARTISTA PATROCINANDO INSTITUIÇÕES CULTURAIS!

Por Jean Sartief , Sanzia Pinheiro e Afonso Martins


Desde 2001, está em circulação no Brasil, uma das mais bem humoradas e críticas ações em favor dos artistas e contra as imposições mercadológicas dos editais de arte. Trata-se de um logotipo que traduz uma sigla denominada APIC – ARTISTAS PATROCINANDO INSTITUIÇÕES CULTURAIS.

A proposta, apesar de irônica, é série e vem sendo adotada pelos artistas que se deparam com a realidade dos problemas decorrentes das exposições propostas por instituições públicas. Normalmente é comum o próprio artista ser o responsável pelo transporte, seguro, impressão, elaboração de catálogos ou convites, coquetel e até mesmo doação de obras para os proprietários das galerias e espaços expositivos como forma de pagamento de uso do espaço. Quem já não passou por isso em Natal?

A APIC traz a discussão não somente sobre quem deve recair todos os custos de uma exposição proposto por uma instituição como também sobre o valor financeiro sobre o conhecimento artístico e intelectual expresso na obra exposta publicamente. A legenda foi criada por dois artistas brasileiros, Maria Lucia Cattani e Nick Rands, residentes em Porto Alegre e com considerável currículo em enfrentar problemas e desafios com exposições no Brasil e na Inglaterra.

No País de Gales, os artistas há muito lutam por seus direitos e após várias campanhas de organizações que representam legalmente os artistas como a Artist’s Union e a National Artists Association, a situação mostrou-se modificada. Hoje, é realizado um contrato padrão entre o artista e o local do evento, seja galeria, museus etc, onde os custos de transporte de obras, seguro, fotografias e publicações são cobertos pelo espaço expositor, e indica uma taxa conhecida como Direito de Pagamento de Exposição, que gira em torno de R$ 1.500, paga ao artista conferindo o reconhecimento pelos serviços intelectuais/artísticos derivados do ato de expor numa instituição pública para uma comunidade inteira.


Ora, é fácil reconhecer a relação existente, na maioria das profissões entre o conhecimento intelectual e a remuneração. Paga-se um advogado pelos seus serviços, paga-se a um dentista pelo seu conhecimento e ação, paga-se a um palestrante pelo renomado saber e por que motivo não pagar a um artista que estudou por anos, capacitou-se, investiu em materiais realizando experimentações e pesquisas, participando de cursos, palestras, oficinas, viagens, livros para exercer sua atividade com propriedade. Por que só pagar pela obra, quando muitos não a contraem financeiramente, mas a adquirem como conhecimento visual que será incorporada a experiência de vida.

Muitos artistas iniciantes participam com euforia de exposições em espaços públicos como forma de começo de construção da carreira, do nome e assim submetem-se às circunstâncias exigidas; contudo com uma certa experiência reluta em participar de exposições em espaços públicos devido aos custos e à falta de respeito ao seu trabalho – levando em consideração que muitas destas instituições não possuem profissionais aptos ao manuseio, tratamento, acondicionamento das obras, climatização, investimento em arte educação e não ressarci o artista em caso de dano a obra.


O uso do logotipo da APIC é um meio de modificar essa realidade através de cada um que trabalha com artes visuais. Ao usá-la o artista indica que muito dos custos de envio, tratamento, seguro (quando existe!), divulgação são pagos pelo próprio artista, que não recebeu pelo seu trabalho.


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15º Salão da Bahia - 2008 com inscrições de 21/07/08 a 29/08/08. A ficha de inscrição e o regulamento estarão disponíveis no site www.mam.ba.gov.br a partir de 21/07/08. Mais: salao@mam.ba.gov.br e http://www.mam.ba.gov.br/

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Caixa Cultural recebe propostas para programação de 2009. Os interessados em participar da programação de 2009 dos espaços da Caixa Cultural em Brasília (DF), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP) podem enviar propostas entre 21/07/08 e 05/09/08. Mais: www.caixa.gov.br/caixacultural, na seção patrocínio. Tel. 0800-704-5068.

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Bolsa Iberê Camargo 2008Programa de residências no Blanton Museum of Art/ The University of Texas at Austin, nos Estados Unidos, e Maus Hábitos / Espaço de Intervenção Cultural, no Porto, em Portugal). Inscrições até 18 de julho de 2008. Mais informações: cultural@iberecamargo.org.br http://www.iberecamargo.org.br/

15/07/2008

37- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

PARA PENSAR E AGIR...

Por Jean Sartief, Sanzia Pinheiro e Afonso Martins
JOSEPH BEUYS, Como se explicam quadros a uma lebre morta. Ação /1965, Alemanha.

Tecnicamente os salões de arte inseridos dentro do circuito mercadológico institucional, ou seja, aqueles editais que são vinculados a alguma instituição pública ou privada (em geral bancos) criam normas técnicas e diretrizes para nortear os artistas quanto ao processo técnico de envio de projetos para seleção e posteriormente, aos selecionados, o envio das obras.

Tais editais dão diretrizes, mas também esclarecem os direitos e deveres de ambas as partes no processo que decorre ao salão, que são uma estratégia de atuação para divulgação institucional, pública ou privada, da política cultural defendida e que, assim, dentro de suas especificidades, procura abrir uma nova paisagem, mapear novas geografias artísticas, imaginar outras formas de atuação e, ao mesmo tempo, desenvolver críticas e processos curatoriais de práticas e descobertas de novos artistas.

A própria conceituação de descoberta de novos artistas parece um pouco fraca quando entendemos que o artista se faz ao longo do percurso e essa descoberta só desperta o olhar para uma promissora carreira que pode seguir, ou não, a contento.

Esses novos artistas, muitas vezes, não encontram ecos de sua produção dentro dos chamados editais, uma vez que estes se limitam a práticas consensualmente aceitas. No circuito tradicional, não há um edital sequer que invista em novas práticas. Parece que um copia o outro e esquecem-se de inovar, de olhar para suas amplitudes e suas regionalidades, e até mesmo, possibilitar confluências que o desliguem dos demais.

Acerca dos direitos e deveres, um abismo freqüentemente se forma. A prática de remuneração de todos os selecionados nem sempre é comum, o feito em regra comum é destinado aos premiados, e de um modo geral ainda insuficiente para o artista, que a utiliza como uma ajuda de custo na produção de seu trabalho, levando em consideração que os custos como transporte, devolução, seguro nunca estão inclusos. Se acontece algum dano, provavelmente, o artista deve ter assinado na ficha de inscrição o termo que concordava com os requisitos de tal edital, que incluía a não responsabilidade por perdas, danos, extravios ou quaisquer outros adultérios a obra. Isso sem falar da prática de adiar os períodos de inscrições várias vezes, sem comunicar ao público as novas datas de seleção e os tais critérios que levaram às modificações e o atraso na produção dos catálogos, quando se exige dos artistas o envio de fotos antecipadamente e com prazos curtíssimos.

Ainda presos dentro das convenções formais, os editais carecem de uma atualização e diálogo com os artistas, uma vez que, geralmente os próprios processos curatoriais são questionados. Os artistas são os únicos capazes de romper tais regras e desafiar tais tradições perpetuadas, já que são os mais comprometidos com o trabalho, quando os organizadores são comprometidos com a instituição.

Em 2005, o artista Bruno Vieira, de Pernambuco, passou pelo constrangimento de ver seu nome selecionado para a premiação em um Salão em Goiás! E depois recebeu a notícia da organização que tudo não passou de um engano. Segunda curta divulgada no Mapa das Artes, a 14ª edição do Salão de Arte Contemporânea de Campinas (SP), promovido pela prefeitura local por meio do Museu de Arte Contemporânea da cidade, retomado depois de 19 anos, não pagou nem os artistas premiados nem os membros da comissão julgadora. O evento ocorreu entre o final de 2007 e o início de 2008.

Por essas e outras os artistas precisam de fortalecimento enquanto conjunto representativo. Somente esse engajamento faz com que as instituições revejam sua postura e se firmem não só como espaço expositivo, mas meio de preservação, difusão, troca de conhecimento e incentivo a produção, dentro de prerrogativas favoráveis aos próprios artistas.

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O artista Daniel Murgel, está comprando obras de arte para apresentá-las em um evento-performance na galeria paulistana Vermelho. O trabalho é o “Leilão dos Piores Trabalhos de Arte Contemporânea”, pagará de R$ 0,10 a R$ 1,00 por cada obra. Mais: http://www.galeriavermelho.com.br/
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OIDARADIO é uma estação de rádio, um espaço expositivo expandido em que artistas, curadores e músicos experimentais poderão desenvolver uma grande variedade de projetos exclusivamente sonoros. Para ouvir: http://oidaradio.org/exposicao.php
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Bienal do Mercosul (Porto Alegre/RS) definiu curadoria-geral para a 7ª ediçãoA curadoria-geral será da argentina Victoria Noorthoorn e do chileno Camilo Yáñez. Eles, que estarão em Porto Alegre em 03/07/08, propõem um conceito de bienal que determina uma participação efetiva dos artistas. Mais: http://www.bienalmercosul.art.br/

08/07/2008

36 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

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DOS LEITORES*

Por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Afonso Martins

reflexões sobre a pressão do sistema

Dois comentários de leitores da coluna nos trazem reflexões sobre nosso contexto e a pressão que o sistema exerce sobre todos nós.


Um deles, Geison, comentando sobre a coluna Arte e Novas tecnologias, diz que concorda com as divergências conceituais entre o proposto e o realizado nas instituições culturais da cidade e cita a entrevista de Max de Castro – na ocasião de sua apresentação no Projeto Seis e Meia, comentando que lá no final da entrevista – no mesmo caderno de nossa coluna, o cantor diz, relativo a música, que "O Rio Grande do Norte vai estourar um dia". Geison é enfático em demonstrar uma certa incredulidade quanto a mudança desse status quo da arte potiguar: "... É essa a sensação...um dia... um dia perdido... um dia que demora muuuuuuuuuuuito a chegar... chegará?"


Um outro leitor questiona-nos da distância entre a nossa realidade – que vai desde o sistema político até ao pequeno circuito local artístico – e a tecnologia (tema de nossas últimas colunas em função do Prêmio Abraham Palatnik). A cena artística de Natal destoa um pouco do cenário brasileiro (dos centros que pesquisam, discutem e propõe ações em arte em abrangência internacional) quanto à efervescência, as políticas culturais, o repertório do público, os coletivos, os grupos independentes e o fomento a discussão de uma arte consciente de seu tempo etc, mas nossas instituições também sofrem da burocracia e ineficiência existentes em outros estados.


Questiona-nos se deve, ou não, se inscrever no Prêmio Palatnik. Bem, sabemos que o aprendizado se dá no intercâmbio provocado pelo ato de estudar a história da arte, pesquisar, experimentar, conversar, discutir seu trabalho, conceitos, idéias e buscar aprofundamentos com amigos, artistas e conhecer outras práticas diferente da sua. O artista deve estar aberto a críticas construtivas que o impulsionem em sua poética. A partir daí ele terá a resposta que busca. Porém, mais importante que um prêmio é a construção de um pensamento, uma carreira, um percurso firme que vai mostrar, ao longo do tempo, o quão importante é a troca, o experimental e como isso se reflete na obra.


É esse refinamento que vai dirimir algumas das angústias em relação à própria produção. O convívio com outros artistas, prática pouco difundida em Natal, é salutar nesse aprendizado e pode gerar uma nova visão saindo do sistema passional que a cidade impõe. Nesse sentido, vale a pena criar coletivos, propor ações independentes de instituições, romper fronteiras, realizar parcerias com artistas de outros estados, discutir e lutar por um outro sistema e por instituições culturais realmente envolvidas e com gestores mais comprometidos com o movimento de artes visuais e aí sim, em pouco tempo poderemos ter um outro cenário!


Se continuamos com as mesmices de sempre; se aceitamos passivamente os abusos e desmandos praticados; se não nos posicionarmos com medo de ficarmos "queimados", apenas seguiremos dando força a um sistema ultrapassado e que, como séculos atrás, visa apenas a manutenção do poder nas mãos dos mesmos.

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A quarta edição da bienal Emoção Art.ficial, exposição de arte e tecnologia em cartaz no Itaú Cultural fica até 14 de setembro. Mais: http://www.itaucultural.org.br/
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Dia 10 de julho, às 18h, acontece na livraria Siciliano, do Midway Mall, o lançamento do catálogo da mostra LIVRO DE ARTISTA: ESCRITURAS E EXISTÊNCIAS, com bate-papo com Dácio Galvão.
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Até 31 de julho as inscrições para a III Mostra Recife de Fotografia. Mais: http://www.recife.pe.gov.br/2008/06/30/mat_162922.php
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* O título publicado na edição impressa desta coluna do Fermentações Visuais foi "Um minuto de silêncio", mas não foi o título definido pela equipe do Fermentações, então publicamos aqui o título original.
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publicado em 08 de julho de 2008

01/07/2008

35 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

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E POR FALAR EM ARTE E TECNOLOGIA...
Por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins


O texto de hoje é para aqueles artistas que pretendem se inscrever no II Salão de Artes Visuais Prêmio Abraham Palatnik. Já apontamos, em escritos passados, alguns equívocos no regulamento e no salão anterior. Hoje as questões são: o que é tecnologia? O que está acontecendo no mundo em termos de arte e tecnologia? Quais os conceitos colocados?


Em 09 de junho foi aberta, na China, a coletiva Synthetic Times: Media Art China 2008. Nessa exposição a artista brasileira Rejane Cartoni apresentou a obra OP_ERA: Sonic Dimension (é possível fazer uma visita virtual). O sucesso da obra foi tão grande que a artista foi selecionada para falar por todos os artistas na cerimônia de abertura. O conceito da obra centra-se em "ambientes imersivos-interativos, um híbrido de espaço de dados e espaço físico, além de dispositivos que servem para produzir ilusões espaciais. São promessas de novas interfaces através das quais o humano e o computador poderão comunicar simbioticamente. Nesses ambientes (no caso ideal), o comportamento 'natural' do agente humano está associado ao comportamento 'artificial' do computador de maneira inseparável. Cada ação ou contato estabelecido sob tais circunstâncias gera compreensão equivalente a qualquer uma das partes."


São inúmeros os artistas que trabalham com interfaces como a genética, o corpo humano, a robótica, a biologia, outros animais etc… E aí nos perguntamos, o artista dá conta de todos esses conceitos? Não! Ele trabalha em conjunto com outras áreas. O projeto é concebido pelo artista que pesquisa nas várias ciências e convida, solicita, seduz, engloba cientistas, engenheiros, matemáticos, pesquisadores e outros profissionais que, em diálogo com o criador, viabiliza a obra.

Um artista brasileiro que provoca polêmica é o notabilizado Eduardo Kac, que criou em conjunto com um laboratório francês uma coelha fluorescente GFP, Alba. Além do animal, Kac já trabalhou com bactérias, plantas, peixes, amebas e ratos igualmente fluorescentes. Estão todos no sistema ecológico artificial de O Oitavo Dia, seu terceiro trabalho transgênico. Em 1997, introduziu um microchip (transponder, de identificação) em seu calcanhar esquerdo, o título da obra é "Time Capsule".

Já Paulo Brusck, realizou, em 1976, experimentações com aparelhos de raio X, eletroencefalógrafos e eletrocardiogramas, tomando os registros dos aparelhos como recursos gráficos. O artista criou uma correspondência entre os estados de ânimo e os efeitos gráficos produzido pelos aparelhos. Essa pesquisa resultou no livro de artista: O Meu Cérebro Desenha Assim (1976), um vídeo e um filme em super 8.

As décadas de 60 e 70 são caracterizadas também por uma explosão dos meios e é dessa época que o artigo de Walter Benjamim A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, se populariza. A tecnologia dos anos 60 abriu novos e insuspeitadas possibilidades à criação artística. Os artistas conjugam metafísica, tecnologia, arte e ciência. Essas interfaces só têm se ampliado!

Muitos concordam que o uso do computador para a feitura de arte pode ser datada em 1959, na Escola Politécnica de Stuttgart, quando Théo Lutz cria poemas clássicos e não uma obra com características dos "médiuns" utilizados.

A palavra tecnologia vem de dois vocábulos gregos: τεχνη (tekno) — "ofício" e λογια (logia) — "estudo" e é tão antiga quanto a própria humanidade; envolve o conhecimento técnico, científico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento.

Outros artistas trabalham com suportes avançados, conceitos que são híbridos de várias áreas. Há aqueles que estão preocupados com as interfaces entre corpo e máquina ou estão trabalhando no campo da body art e da bioarte, como por exemplo o australino Stelarc e a francesa Orlan que promovem a crescente simbiose entre a carne e a técnica; o orgânico e o inorgânico, problematizando as novas configurações corporais.

Se quisermos provocar desenvolvimento nas artes visuais do RN é importante lembrarmos que uma coisa é a proposição do salão, outra coisa são as obras apresentadas. Para os artistas há dois caminhos quanto a esse salão: ou se inscrevem com uma obra que se sintoniza com as questões contemporâneas e a produção atual e a tecnologia ou não se inscrevam. Acreditamos que isso é uma coisa chamada ética e coerência.

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Acontece até 26 de julho a V edição da Bienal de São Tomé e Príncipe. Mais: http://www.bienalstp.org/
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Inscrições para o Salão de Artes Visuais do 9º Festival do Instituto de Artes (Feia 9), da Unicamp, em Campinas (SP), até 25 de julho. Mais: http://www.feia.art.br/
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Segue até o dia 2 de julho de 2008 as inscrições para o 7° Encontro Internacional de Arte e Tecnologia. Mais: http://www.cultura.gov.br/
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Publicado em 01 de julho de 2008