01/04/2008

22- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA FEIRA

A BELEZA DA DIFERENÇA
por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Marcelo Gandhi


Ronald e a intervenção urbana na árvore - Verde que te quero verde

Ronald Duarte é um ser humano inquieto e um artista intenso em sua atividade. Aproveitamos a passagem dele por Natal para o projeto denCidade para um bate-papo sobre arte, vida e sua produção.

FV – Como é seu processo de criação?


O meu processo de criação ele demora um tempo de vivência, de convivência, de perceber o espaço em que eu estou inserido. Não estamos isolados do mundo. Temos que perceber o espaço. Nesse caso aqui (projeto Verde que te quero verde, executado durante o denCidade) é uma árvore morta que me incomodava desde o dia em que cheguei e eu acho que é um motivo para se pensar em plantar árvores, alguma coisa ecológica. O vermelho é um complementar – oposto do verde – por isso eu pensei em pintar a árvore de vermelho, para ver se as pessoas a percebem... No denCidade eu vim sem nenhuma proposta inicial para poder ver qual é necessidade porque é muito difícil você vir com expectativas e encontrar outra coisa. Meu processo de criação, o tempo todo, é esse embate físico/corporal no espaço em que eu estou vivendo.


FV - Você participou do imaginário periférico que colocava a questão do meio e da produção. Como você vê a produção contemporânea fora do circuito Rio de Janeiro/ São Paulo?


Eu não só participei como fui um dos criadores, um dos pensadores da idéia do Imaginário Periférico. Eu coloco essa questão visceralmente porque eu fui criado na baixada fluminense e fui excluído por muitos anos... vivia numa periferia... tinha necessidade e vontade de fazer arte de fazer tudo isso que fazemos e de repente não tinha espaço exatamente como o pessoal daqui (Bairro Nossa Senhora da Apresentação, durante o denCidade) que está aqui e não consegue chegar ali... Então essa distância que fisicamente é tão curta, mas ideologicamente, filosoficamente ou esteticamente é tão distante que conseguimos, de uma maneira ou de outra, encurtar. Na verdade sou eu, Jorge Duarte, Raimundo Rodrigues, Roberto Tavares, Deneir e Julio Sekiguchi, são 6 que nos reunimos para criar um grupo na periferia onde a idéia era que o imaginário periférico de fato viesse à tona. Se formos buscar aqui os artistas locais, como aquele rapaz que está ali na associação, você vai encontrar preciosidades. Picasso só foi Picasso porque estava no lugar certo, na hora certa porque senão o mundo inteiro não o conheceria. Então o Imaginário Periférico é uma ansiedade de infância, uma necessidade de infância, de botar o bloco na rua, de mostrar produção, e de afirmar a diferença sem querer pasteurizar e amarrar todo mundo num conceito.


FV – Essa possibilidade de abrir para novas percepções e criadores é uma das riquezas de projetos como o Imaginário Periférico, como o denCidade e outros?


Sem dúvida. O Imaginário Periférico é uma riqueza sim. Tanto o imaginário periférico, como o projeto denCidade, via Funarte (conexões visuais) que é uma continuidade da Rede Nacional de Artes Visuais, criada pelo Xico Chaves, é uma preciosidade também porque consegue congregar mais de 50 artistas do Brasil e mais de 30 a 40 capitais , então quer dizer, quando você consegue ter o feedback da comunicação - porque muita gente pergunta como isso acontece... e isso só acontece através da comunicação porque a comunicação é visual, sensível, afetiva, emocional, social, de todas as ordens. É preciso colocar a mão na massa, fazer!


FV – Quais as maiores dificuldades de trabalhar com arte contemporânea no Brasil?


Para mim a maior dificuldade de trabalhar com arte contemporânea é ser contemporâneo. É estar nesse tempo. A maior dificuldade é conseguir largar o ranço e a velharia e esse piso construído, tradicional, desse imaginário de que artista é alguém com uma paleta, uma boina, um cachimbo na boca e pintando uma telinha e uma paisagem. Isso foi um marco do século XIX, um marco da pintura antes de todo esse boom e essa explosão espacial. O próprio Hélio Oiticica que no Brasil foi um dos precursores, dizia que tinha que deixar o corpo falar, o corpo fluir, o corpo entrar no espaço e quando o corpo entra no espaço e aceita esse espaço a tela cai da parede e o cubo branco explode.



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A exposição ‘A Arte que Banha o Nordeste’ conta com 113 obras de cercade 30 artistas de Sergipe, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande doNorte. Palácio dos Bandeirantes, de de 31 de março a 4 de maio de 2008. Mais:
http://www.saopaulo.sp.gov.br/
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O 7º Salão Nacional de Arte - MAC de Jataí (GO) - 2008 recebe inscrições até 16/04/08. Mais: http://www.jatai.go.gov.br/
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Abertas até 04/04 inscrições para o 59º Salão de Abril, em fortaleza/CE. Mais: http://www.fortaleza.ce.gov.br/salao.asp



publicado em 01 de abril de 2008

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