26/01/2008

12 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

DA ADVERSIDADE VIVEMOS! - por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Marcelo Gandhi

cartaz da mostra Nova Objetividade Brasileira.


Hoje, trazemos um resumo de um texto histórico de Hélio Oiticica, publicado no catálogo da mostra Nova Objetividade Brasileira, em 1967, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O artista aponta a antropofagia (1928), como decisiva para a chegada (em 1960) da Nova Objetividade. Sugerimos a leitura do texto, na integra, (via internet) como mais um grão energético no desenvolvimento da artes visuais do RN.


Os 6 pontos apresentados por Oiticica, geram a reflexão de o quanto as nossas instituições estão aquém do processo brasileiro, pois são atualíssimas, então vejamos:


1- Vontade construtiva geral. Somos um povo à procura de uma caracterização cultural e isso nos diferencia do europeu (peso cultural milenar) e do americano (solicitações super-produtivas). A Antropofagia seria a defesa contra tal domínio exterior, e a principal arma criativa; o que não impediu, uma espécie de colonialismo cultural, que deseja-se ver abolido. Aqui o convite é para o mergulho na nossa cultura. Uma pesquisa aos modus cascudiano. Um microscópio num olho e o telescópio no outro.


2- Tendência para o objeto, ao ser negado e superado o quadro de cavalete. O fenômeno do fim do quadro de cavalete, e surgimento oposto da criação de relevos, antiquadros, até as estruturas espaciais ou ambientais e a formação de objetos, numa linha continua, até a eclosão atual. Oiticica analisa a transformação dialética vivida por Lygia Clark, Antônio Dias, o grupo do Realismo Mágico de Wesley Duke Lee e Waldemar Cordeiro (e outros) que com o Popcreto trazem o conceito de 'apropriação'.


3- Participação do espectador (corporal, táctil, visual, semântica etc.). Há 2 formas de participação: uma envolve "manipulação" ou "ação sensorial-corporal" e a outra, uma "participação semântica". Estas buscam uma totalidade, envolvendo os dois processos; isto é, não se caem no puro mecanismo de participar, mas concentram-se em significados novos, distinguindo-se da pura contemplação.


4- Abordagem e posicionamento em relação a problemas políticos, sociais e éticos. Cabe aoartista procurar o pleno envolvimento; erguer alicerces de uma totalidade cultural operando mudanças na consciência do homem, que de espectador passivo dos acontecimentos passa a agir sobre eles usando os meios que lhe afloram: a revolta, o protesto, o trabalho construtivo para atingir essa transformação etc. O artista torna-se modificador também de consciências (no sentido amplo, coletivo).


5- Tendência para proposições coletivas e abolição dos "ismos", típicos da primeira metade do século XX, (que pode ser englobada no conceito de "arte-pós-moderna", de Mario Pedrosa). Há 2 maneiras de propor uma arte coletiva: a primeira, seria a de jogar produções individuais em contato com o público das ruas (claro que produções que se destinem a tal, e não produções convencionais aplicadas desse modo) – outra, a de propor atividades criativas a esse público na própria criação da obra. A arte coletiva está ligada intimamente ao problema da participação do espectador.


6- Ressurgimento e novas formulações do conceito de antiarte. O problema poderia ser enfrentadocom a pergunta: Para quem o artista faz a sua obra? Vê-se, pois, que sente esse artista uma necessidade maior, não só de criar, mas de comunicar algo que lhe é fundamental. Uma comunicação em grande escala e não para uma elite reduzida a experts, mas até contra ela, com a criação de obras não acabadas, "abertas”, como ponto fundamental no conceito de antiarte.


Oiticica finaliza com uma frase que acredita representar o espírito da "nova objetividade" (síntese de todos esses pontos). Ei-la: DA ADVERSIDADE VIVEMOS!


EM 15 DE JANEIRO DE 2008

Nenhum comentário: