Pinacoteca, seus dias estarão contados???? Foto: Jean Sartief
Em maio de 1968 aconteceu, na França, a famosa “revolução romântica” que desencadeou uma contestação global em meio a efervescência sociocultural que o mundo vivia após a Segunda Guerra. Estudantes tomaram conta de Paris em um movimento que causou estardalhaço ao sistema opressor e limitante existente. Exigia-se coerência, liberdade e democracia incorporando ao movimento a arte e a poesia. Os museus foram um dos alvos de contestação dessa revolução e gerou uma mudança no posicionamento e ação com o público.
Em seu livro, Entre Cenografias – O museu e a exposição de arte no século XX, a professora de arte da USP, Lisbeth Rebollo Gonçalves, analisa que a partir desse momento histórico, os museus como instituições intocadas são colocadas em questionamento, num desejo profundo de arejamento, simbolizando uma concepção de museu aberto como instrumento de difusão e comunicação em ligação direta com a vida urbana.
Passados 40 anos e uma série de outras manifestações, e novas conceituações dos museus, encontramos nas terras potiguares a básica luta pela defesa de uma instituição como a Pinacoteca, no Palácio da Cultura, quando deveríamos estar batalhando pela sua melhoria crescente, pela ampliação do acervo, pelo treinamento adequado aos funcionários e contratação de profissionais competentes para administrá-la ao invés de termos que juntar esforços para conscientizar o poder público da necessidade de manutenção desse ícone de nossa identidade cultural.
A Pinacoteca do RN como outros museus sobrevivem ameaçados de extinção. Os museus de arte pelo mundo todo investem em atrativos e se constituem em equipamento educacional. A Pinacoteca, prédio neoclássico, que abriga a história das artes visuais do RN, o maior e talvez melhor acervo do Estado encontra-se ameaçada. Investir no Museu Pinacoteca valoriza o potiguar, que passa a conhecer mais da sua história. São inúmeras as experiências na qual há um empenho real para se documentar, agregar e formular uma logística que dê movimento ao arsenal cognitivo e cultural.
O Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, com projeto de Marcelo Dantas, apresenta informações textuais e visuais da língua portuguesa em suportes lúdicos, usando e abusando dos recursos como o vídeo e a fotografia. Contam ainda com a presença de bons monitores e de uma exposição do acervo que muda a cada dois ou três meses. A proposta de transformar o prédio da Pinacoteca em estrutura política é uma visão típica dos políticos do RN que não enxergam uma a arte como a alta expressão de um povo e não somente como estratégia política.
Vamos nos questionar por que existe tantos editais para museus no site do MINC? Por que há um movimento mundial de criação e não de fechamento de museus? Como exemplo, Pirâmide do Louvre, Paris/1989, o Museu de Arte Moderna de Frankfurt, Alemanha/1990, o Grand Pallais de Lille, França/1994; Museu de Arte Contemporânea de Bilbao, Espanha e o Tate Gallery of Modern Art, Londres, ambos de 2000 e aqui lutamos para manter viva a nossa Pinacoteca com seu acervo precioso (em péssimo estado de acondicionamento, com obras de Leopoldo Nelson, literalmente se desfazendo). Ainda não acordamos para a contemporaneidade. Ainda somos uma fazenda iluminada ao invés de iluminarmos e valorizarmos a nossa arte e nossos artistas.
Segundo Aracy Amaral, Leonor Amarante, ÍBIS Hernandez e outros curadores que aqui estiveram, o prédio da Pinacoteca é próprio para tal. Possui um pé direito capaz de abrigar grandes exposições. Não há outro no Estado! Temos a essência, a vontade de liberdade e luta pela arte!
EM 29 DE JANEIRO DE 2008
4 comentários:
Sim! precisamos estar todos nessa luta e conservar os espaços destinados a arte nesse pais, que é tão rico e tem uma elite política e economica tão burra!
Mas unindo forças e fazendo barulho a sociedade ganha poder. Nós que lutamos pelas artes visuais no nordeste sabemos como é dificil mostrar que fazer e preservar arte vale a pena, e é essencial!
solidariendade daqui do Ceará! pq essa luta é de todos nós, pois o patrimonio não é só Potiguá, mas brasileiro.
E aí, como podemos ajudar? Tem alguma petição online? Curiosamente agora estão inaugurando aquele simpósio sobre Museus Iberoamericanos na Espanha que parece ter apoio do governo brasileiro. Por que não tentam fazer contato com o IPHAN?
"Agenda Internacional - A programação do Ano Ibero-americano de Museus será divulgada nas seguintes páginas eletrônicas: www.cultura.gov.br, www.museus.gov.br, www.oei.org.br e www.segib.com.
Outras informações: (61) 3414-6234 e demu@iphan.gov.br, no Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Demu/Iphan)."
abraços, Daniela Labra
o mais engraçado é que o mundo tá vivendo um momento de resgate de sua historia, mas Natal vai acabar ficando de fora disso...
espero que a cidade nao aceite essa atitude da nossa "querida" "governadora"...
sera uma vergonha pra cidade, e uma pena pra todos que precisam desse espaço, tanto pra mostrar quanto pra admirar a arte do nosso estado
Parabéns pela iniciativa! Tomara que vocês continuem realizando esses encontros por muito tempo!
Uma dica: vi que há um link na lateral do site de vocês para o Rizoma. O rizoma saiu do ar, mas é possível acessar seus textos em PDF nessa página: http://virgulaimagem.redezero.org/rizoma-net/
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