Projeto Filtro - para Vergara. NY 1972, de Hélio Oiticica (1937-1980)
Uma visita a uma exposição é também um percurso corporal e não somente visual. O espaço em si é um produtor de sentido e interfere e interage na experiência sensorial de quem a visita.
Na arte contemporânea, o espaço físico é um elemento construtivo da obra tão importante quanto era o pincel ou a tela para outros artistas. No final dos anos 60 essa questão é confrontada com as novas formas de exposição. Joseph Beuys, Lygia Clark foram pioneiros em abolir a separação entre o espaço da obra e o espaço do público e de lá para cá presenciamos uma evolução na forma de expor.
A apresentação de uma exposição merece tanto cuidado quanto a produção de uma obra. A montagem pode dar maior vigor às obras como pode enfraquecê-la. Um montador necessita ter noção de espaço e estar sintonizado com o artista ou com o curador. O espaço e o tempo, segundo Jean Davallon*, são suportes do ato de visitação. O sujeito que levanta o peso da obra, não é o montador. É preciso uma totalidade onde as obras dialoguem na construção de um discurso com coerência interna que presume significações ao público.
Reconfigura-se o espaço expositivo em função dos objetivos do curador ou do artista, mas não é a arte que deve adaptar-se ao espaço. Outro questão é sobre a manipulação e manuseio das obras, o transporte, acondicionamento, conservação e outros aspectos que devem ser pensados por um montador a fim de evitar danos à obra. Infelizmente ainda não temos em Natal esse profissional ou instituições públicas que invistam em todos de todos estes aspectos.
O IX Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal teve, nessa edição, a feliz participação de Civone Medeiros. Sua montagem deu coesão ao conjunto das obras com um estudo cuidadoso. O campo das artes visuais passa por um constante processo de profissionalização e ampliação de suas fronteiras, especialmente nas áreas específicas ligadas à produção de exposições, à curadoria, à museografia, à expografia e aos projetos educativos. É urgente investir na qualificação desses profissionais.
Já a cidade como espaço oferece um entrelaçamento de diferentes possibilidades de exposição que foge dos usuais ambientes institucionais e permitem ao cidadão a visualização de uma arte que interage com o espaço público e provoca novas formas visuais, além de relações e reflexões entre o expectador, a arte e seu fluxo de vida.
• Jean Davallon é professor, diretor de pesquisas e responsável pela Escola Doutoral Espaço, Tempo, Poderes e Práticas Culturais na Universidade de Avignon, onde desenvolve pesquisas sobre o patrimônio, as instituições culturais e os processos de recepção.
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