25/01/2008

5 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA FEIRA

PROPOSTAS REAIS DE NOVOS MODELOS DE ATUAÇÃO ARTÍSTICA
por Jean Sartief, Marcelo Gandhi e Sânzia Pinheiro


SPLAC - EIA



Uma das grandes possibilidades do nosso tempo é a liberdade de criação e implementação de ações, conceitos, idéias, hábitos, posturas, envolvimentos e principalmente a disseminação de informações que geram novas práticas produtivas, intelectuais e criativas. No campo artístico isso também é uma prerrogativa da arte contemporânea quando falamos na arte urbana. No País, salões independentes estão criando um novo conceito de arte no qual o coletivo e o individual caminham juntos sem conflito, uma vez que o objetivo é sempre maior: a consciência cidadã através da arte e assim a consciência artística através da cidadania.

Muitos teóricos já o rotulam como artivismo ou arte ativista esse braço contemporâneo de incorporar na criação processos sociais, políticos, antropológicos, filosóficos, ambientais de forma crítica. Claro que muitas ações, obras e manifestações seguem estruturas próprias, criadas pelos artistas que não abarcam o conceito institucional legalizado como obra de arte, mas isso é a última preocupação dessa turma.

Citamos dois exemplos de vivências coletivas nos quais participamos diretamente e trazemos aqui essa experiência de formação de uma arte crítica consciente com seu tempo, do seu entorno, libertária e questionadora acima de tudo, inclusive de si mesma. Uma das experiências é vivida pelo artista Marcelo Gandhi (Ação Multiplicadora) e a outra por Jean Sartief (EIA).

A Ação Multiplicadora é um coletivo de artistas de São Paulo, Rio Grande do Norte e Fortaleza,com o objetivo de estimular conversas sobre arte contemporânea, trocar idéias, fazer amigos, e a partir disso organizar exposições coletivas. O grupo trabalha com a questão rizomática, por isso multiplicadora...e com embasamento de estudiosos como os filósofos Gilles Deleuze e Félix Gatarri, ou seja, o processo de criação, mesmo seminal envolve reuniões, leituras,chazinhos, discussões, e a parte prática da coisas que são as mostras dos trabalhos.

A primeira exposição do grupo aconteceu no Muna (Museu de Arte de Urbelândia) onde ocorreu discussões, oficinas e outras ações. Olhando a exposição como um todo, nota-se muito mais uma coesão entre curadoria e artistas do que a especialização das partes envolvidas sem, contudo, esquecer a própria instituição. O Ação Multiplicadora revela um sintoma interessante: o questionamento dos meios institucionais e a presença do curador como árbitro. Questionando isso, o grupo propõe o fim dessas especializações, e mais ainda, uma aglutinação de todas as partes envolvidas, com igual valor. Vemos isso como uma proposta de inserção e não, desintegração.

O Experiência Imersiva Ambiental, EIA, é um coletivo formado por artistas de diversas áreas e formações que trabalham congregando idéias e ações que provoquem e instiguem, de forma direta ou indireta, no cidadão uma reflexão sobre uma diversidade de temas a partir das afinidades dos artistas com as linhas de ação pessoais - o que já denota uma liberdade do coletivo dentro do individual e vice-versa. O grupo se reúne semanalmente trazendo discussões temáticas do que acontece na cidade e no mundo e com cada um. Dessa forma os artistas vão mapeando, reunindo, promovendo, denunciando, viabilizando e propondo ações que têm como denominador comum o espaço da rua.

O EIA tem como princípio a arte urbana e a liberdade de expressão sem julgos curatoriais. Para tanto fazem parcerias com vários coletivos e artistas do Brasil e realiza o Salão do EIA, evento anual em São Paulo que congrega artistas de todo o País para realizar ações de arte na cidade e arredores. Da mesma forma age o GIA (coletivo de Salvador inspirador de diversos outros grupos, inclusive do próprio EIA), um dos pioneiros na implementação desse modelo de salão de ação urbana cuja a premissa é criar um espaço próprio para que os artistas possam trocar experiências e dialogar através de vivências imersivas nas cidades onde se realizam os salões, criando um intenso intercâmbio cultural, e é essa prática vivencial a fonte de pesquisa,criação e atuação, dentro do espaço público.
Em 27 de novembro de 2007

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