07/03/2008

18 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA


ARTE DESCOBERTA

por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Marcelo Gandhi


Olho. M. C. Echer (1898-1972)

No livro Arte, Dor – Inquietudes entre Estética e Psicanálise, o psicanalista João A. Frayze-Pereira, comenta que no ensaio do filósofo Gerard Lebrun “A mutação da Obra de Arte” (1983) há uma busca para compreender a arte contemporânea não mais como uma contemplação dos trabalhos, mas como um estudo dos sinais que são apresentados, da realidade do entorno.


Segundo Lebrun, “A maior parte do tempo, uma imagem nos interessa porque indica alguma coisa que não está na imagem: pelo que nos deixa adivinhar, ou pelo que continua a ocultar. Somos muito mais os detetives do sensível do que os seus voyeurs”.


Com certeza essa busca que rompe o conforto já acomodado do olho gera bastante surpresa para os que se aventuram na busca das novas percepções e sentidos. Aprimorar o olhar e abrir os horizontes faz parte do caminho para penetrar no visível tal como a sobrevivência do cotidiano. É uma apuração.


Se as exposições aqui não investem em formação, em educação, em monitoramento, guias, textos, etc cabe ao público colocar para fora todos os seus questionamentos para facilitar o seu entendimento ao invés de silenciar e, por outro lado, gritar suas inquietações quanto a esse perfil de exposição que pressupõe um público já formado, com domínio pleno de tudo!


Se algo lhe choca, preste muita atenção a esse sentimento, a essas sensações advindas porque você terá, com certeza, indícios fortes de que é um valioso caminho para se entender e entender o mundo ao seu redor. As obras estão a seu dispor para serem degustadas e não consumidas como fast-food. Pergunte-se “O que busca o artista?” Lance um novo olhar às obras que você encontra! Aventure-se na descoberta de sair do seu ponto de conforto.


Acostumamos a silenciar e aceitar o silêncio como uma premissa de compreensão quando também se faz necessário impregnar o mundo com outras falas, olhares, contextos. Redescubra dúvidas e entendimentos. Frayze comenta que em toda a história da arte, nunca os artistas empregaram tanto o próprio corpo como na contemporaneidade como forma de gritar tudo a sua volta e o silêncio do expectador é recorrente. É preciso acordar do que nos dissolve em calmaria e no meio ao que se convenciona a agir politicamente correto.


Ao artista também cabe, de forma eloqüente, romper com a fragilidade institucional dominante possibilitando que o sensível que o envolve e desperta ocupe um lugar preponderante , provocador e sinfônico que torne o vazio repressor não percebido pelo cotidiano numa movimentação inscrita em sua própria alma e na alma de quem se permite a descobrir novos e velhos universos.
Publicado em 04 de março de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

\Parabéns por todas as colocações referentes à arte contemporânea. Vemos que paradoxos são os memsos seja em Natal, São Paulo ou Berlin.

O livro Arte e Dor é uma belíssima referência a todos que querem entender um pouco mais do universo da arte pela abordagem psicanalítica.

abraços,
Célia