CONVERSA COM CILDO MEIRELES
por Marcelo Gandhi, Jean Sartief e Sânzia Pinheiro
l
O Fermentações Visuais traz, nesta semana, uma entrevista exclusiva com o artista Cildo Meireles, expoente da arte contemporânea brasileira e internacional.
Fermentações Visuais - Qual o papel da arte no mundo tomado pelo poderio econômico?
Cildo Meireles: A princípio quero crer que o melhor da arte é o que se faz a favor da utopia humana - criar condições para que o homem se torne melhor, em contrapartida com a barbárie cotidiana. Não acho o ser humano mal, a economia gera essa barbárie. Chegamos no limite, veja a questão dos automóveis e seus danos ao meio ambiente. A questão demográfica é outro grande problema no Brasil, devido às questões políticas que dificultam mais do que resolvem. Acho que o nacionalismo é nocivo ao ser humano, enquanto este não compreender que estamos no mesmo barco... pensar fraternalmente, a inexistência de fronteiras pode ser um caminho...
Fermentações Visuais - como você vê esses movimentos quase ou totalmente institucionalizados da arte contemporânea como as bienais, galerias, feiras?
Cildo Meireles: preciso refletir mais para ter uma idéia mais concreta disso enquanto artista... Na arte, bom ou ruim é sempre o trabalho do artista. As feiras interessam aos mercados; as bienais interessam aos curadores e artistas, mas esses níveis se interpenetram - A arte é um bom meio para criticar, mas o artista não pode perder seu foco nas suas reais necessidades e projetos. Eu sou muito individualista, pretendo que a instituição interfira o mínimo no meu trabalho. Negociar o máximo, criar uma simbiose entre ambos....para os artistas mais velhos é mais fácil se impor, agora para os mais jovens existem muitos limites. Uma coisa, arte pra mim é bandoleira: as instituições não compreendem... quanto mais regras menos favorece a prática artística... o estado até apóia, mas sem complicar demais... Os produtores, gerenciadores de projetos são meios importantes para os artistas agirem sem ter que ficarem à margem.
Fermentações Visuais - O que ele diria a um artista que esta começando?
Cildo Meireles: “Jovens envelheçam, envelheçam depressa... ” (citando Nelson Rodrigues) Tem que ter paixão! As pessoas falam de talento, obstinação...na maior parte da minha eu só acreditava no meu trabalho, é solitário mesmo! Não é uma carreira, é uma loteria! Desde pequeno minha mãe falava: “esse menino só vive com esses desenhos!” O artista tem que saber se é isto que ele quer! Tem que batalhar, acreditar até ter uma chance disso virar real.
Fermentações Visuais – o que pensa sobre a fala de Aracy Amaral (falamos das críticas elogiosas que ela fez a Meireles na sua palestra no 8 de maio, em Natal), sobre o futuro e a retrospectiva na Tate Gallery, em Londres, para 2008?
Cildo Meireles: Poxa! Eu fico feliz, honrado de ver que toda batalha vale a pena! Sinto- me recompensado. Sobre o futuro quero trabalhar...artista é como ciclista: pára quando cai! A retrospectiva cobre desde os anos 60 até os trabalhos mais recentes que estarão nessa exposição incluindo Missão/Missões (1990) e Desvio para o Vermelho (1986). Ao todo serão 6 ou 8 peças expostas. São peças grandes. Recebo essa retrospectiva de forma super legal. Ela veio através do Vicente (Todoli) que foi responsável pela minha primeira individual na Europa, no Instituto Valenciano de Arte Moderna, na Espanha . Depois expus em Portugal e depois nos EUA, em Bostom. Essas exposições no exterior me abriram muitas portas....a exposição da Tate Gallery acontece no dia 4 de outubro de 2008. A minha preocupação é que os trabalhos fiquem bem montados,o resto e conseqüência...
FV
Publicado em 11 de março de 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário