por Marcelo Gandhi, Sânzia Pinheiro, Jean Sartief
Coletivo Ação Multiplicadora
Cada um traz em si infinitas possibilidades de ação em qualquer área. Trazemos dois exemplos de como os artistas modificam sensivelmente o tradicional sistema de arte através de conceitos de rede, de multiplicação, vivências, democratização e inovadoras formas de pensar salões, exposições etc.
O primeiro deles é da experiência vivida pelo coletivo Ação Multiplicadora, formada por artistas de São Paulo, Fortaleza e de Natal, entre eles, Marcelo Gandhi.
O Ação Multiplicadora foi criado com o objetivo de propor exposições coletivas que permitam reflexões sobre as questões discutidas pelo grupo, que baseia-se nos fundamentos da questão rizomática, proposta pelos filósofos Gilles Deleuze e Felix Guattari.
O conceito vem, segundo Cristine Greiner - uma das maiores decodificadoras da obra dos filósofos, de um modelo inspirado nas ramificações e germinações existentes na natureza. Trata-se de algo que não enraíza com um único ponto focado, mas de um processo que gera originais formas de vida, de agrupamentos, de ramificações, tal qual o hipertexto, em um paralelo contemporâneo, onde as propostas se universalizam sem centralização, mas com movimentos, ações, focos simultâneos que geram novas configurações e assim por diante.
No Ação Multiplicadora, a relação com o curador, situa-se no plano da cooperação; da parceria nas atividades que vão da formação de um texto até o processo de seleção das obras. O grupo alcança ações mais coesas em significações e processos resultantes do próprio hábito de troca de idéias, discussões, leituras de textos, reflexões e questionamentos à base de reuniões leves regadas a chás, pãezinhos recheados e frutas. Para Marcelo Gandhi: “Somos artistas no mundo de tecnocratas tentando encontrar caminhos, meios e mídias nos quais as idéias circulem sem censura ou qualquer tipo de redução e essa é a linha das exposições apresentadas”.
Dessa forma as práticas artísticas vividas pelo grupo se expandem, multiplicam-se. Trata-se também de um retorno a uma postura orgânica, por isso a comida é elemento presente como forma de congregação. “Estamos nos voltando para a organicidade que os índios vivenciaram e nós perdemos porque nos separamos de nós mesmos e depois do mundo”, completa Gandhi.
Percebe-se, inovações dentro de um mecanismo tradicional, originando outros meios de ação. Um exemplo inédito dentro dos sistemas de arte foi criado por artistas participantes do Terra Una. O coletivo é uma associação sem fins lucrativos - uma ecovila situada na serra da Mantiqueira, em Liberdade/MG. O grupo, com 20 profissionais de diversas formações, atua nas áreas artística, ambiental e da socioeconomia solidária com várias ações e parcerias, entre elas, a famosa Rede de Economia Solidária Flor & Ser – uma rede de trocas com mais de 100 participantes no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com muitos artistas integrantes que já a multiplicaram em diversas outras cidades. Mas a novidade artística do coletivo é o Projeto Interações Florestais, selecionado pelo edital Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras 2007.
Trata-se de uma residência artística eco-social, que acontecerá em 2008 para 10 artistas. O que chama a atenção é o processo de seleção. Os dez projetos a serem contemplados, do total de 156 enviados por artistas de todo o país, serão selecionados pelos próprios artistas (juntamente com o Conselho). A seleção é pela internet com envolvimento ativo dos artistas em discussões e reflexões no site do grupo.
Dessa forma, cria-se no Brasil uma nova vivência. Criam-se modelos participativos, possíveis e de liberdade rizomática, muitas vezes lúdica, leve e definindo outros trajetos para o futuro.
Em 04 de dezembro de 2007
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