25/01/2008

7 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

MILITANTES DA ARTE - por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Marcelo Gandhi


Artistas em protesto contra as câmeras de vigilância, em SP.


As obras de arte de uma civilização são criadas por um processo mental no qual o autor reconstrói o mundo percebido num espaço simbólico, refletindo percepções de mundo, dando ênfase e significado as diversas propriedades visuais e táteis. O crítico Luís Camilo Osório, afirma que os artistas contemporâneos são militantes de um novo mundo, de práticas políticas que ocupam o espaço vazio deixado pela “queda do muro de Berlim”. As reflexões sobre os coletivos nos possibilitam enxergar formas mais contundentes de lidar com o sistema e a própria sociedade.


A partir de 1990/2000 surge uma proliferação dos coletivos de arte, entendendo que as obras são resultados dos esforços de múltiplos agentes na criação de espaços híbridos, fluidos e permeáveis a modelos de pensamento não-regulados para criar vias de “mediação” culturais que gerem desautomatização. Atuam, em sua grande maioria, nas cidades, expondo e propondo questões às políticas do espaço urbano, aos limites (multiculturalismo), à violência, ao isolamento das pessoas, à fragmentação e às relações aí configuradas.


Lidar com a coletividade individualmente também é uma opção de muitos artistas que trabalham no espaço público e passam a resignificar a cidade, a urbanização, os encontros e desencontros possíveis entre ele e o outro. A obra se faz e o expectador torna-se diretamente envolvido já que não é mais só um expectador, mas um partícipe direta ou indiretamente.


Tomemos como exemplo, Margarita Piñeda, artista visual da Colombia que participou da IX Bienal de Havana com a obra Cartografías del Arraigo. De posse do mapa da cidade, nas praças e esquinas, convidava as pessoas a indicar em seu mapa os percursos que elas realizavam cotidianamente. Margarita propõe ao participante uma troca de blusas: a velha por uma nova. Na roupa usada o participante bordará seu percurso.


Cria-se um dialógo entre as pessoas e suas práticas e percursos diários dentro dessa coletividade. Ao bordar seu percurso, o indivíduo toma consciência de coodernadas que marcam diferentes espaços percorridos no dia a dia automatizado: territórios afetivos, de crenças ou práticas religiosas, de memórias e recordações. A artista cria uma situação de educação ao provocar no outro uma auto reflexão. Abre uma possível reorganização/desautomatização do olhar e do caminhar do sujeito na cidade.


Bijari, Branco do Olho, Brócolis, Catadores de Histórias, Cenadinâmica, Cia Cachorra, B.A.I.A., Corpo Informático, Esqueleto Coletivo, Projeto Chã, Entorno, GIA, EIA, Entretantos, Grupo Dragão, Grupo Poro, A Revolução Não Será Televisionada, Espaço Coringa, Horizonte Nômade, NEOTEO, Zaratruta, Agora/Capacete e Transição Listrada são alguns dos coletivos que transitam na cena contemporânea brasileira. E quem são eles? São jovens e adultos. Trata-se de uma tribo que não se contenta com a estrutura limitada que existe no meio e vão além. Alguns até referem-se às práticas artísticas como “guerrilha urbana”.


Os coletivos possibilitam uma forma de organização que liberam a mensagem, o sonho, o grito, a denúncia, o lúdico, as novas formas artísticas e a manifestação da cidadania através da arte. E você, jovem artista urbano... por que não cria um coletivo em sua cidade?


Em 11 de dezembro de 2007

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