
Da construção de uma performance
coluna escrita por Shima, à convite de Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins
O artista paulistano Márcio Shimabukuro, conhecido como Shima, esteve em Natal/RN, em agosto, para uma apresentação de seu trabalho de performance a convite da Casa da Ribeira. O Fermentações Visuais aproveitou e pediu-lhe que apresentasse ao nosso leitor um texto sobre seu processo de construção das performances.Segue o texto de Shima:
"Uma performance? Falar sobre si mesmo talvez seja uma das tarefas mais difíceis, digo isso por experiência própria, por que não é fácil distanciar-me de mim mesmo e analisar-me de fora, mas desafio-me a falar dos processos e das forças que regem o meu trabalho. Como numa performance inédita, não sei o que isso provocará, mas sei, do ponto de vista da performance, que a ação conta mais que a intenção, e as conseqüências geradas poderão ser diversas.
Então, começo: O cotidiano sempre me interessou. A ação, repetitiva, estas que executamos entre o acordar e o dormir, atraem minha atenção. Gosto de observar o dia-a-dia, tanto os meu como o dos outros, os gestos e as ações, e percebo que existem padrões, moldados em pequenos rituais que nos regem de acordo com nosso estado presente, desenhando trajetórias e maneiras do fazer, que se transformam, sempre, sem que percebamos...
"Uma performance? Falar sobre si mesmo talvez seja uma das tarefas mais difíceis, digo isso por experiência própria, por que não é fácil distanciar-me de mim mesmo e analisar-me de fora, mas desafio-me a falar dos processos e das forças que regem o meu trabalho. Como numa performance inédita, não sei o que isso provocará, mas sei, do ponto de vista da performance, que a ação conta mais que a intenção, e as conseqüências geradas poderão ser diversas.
Então, começo: O cotidiano sempre me interessou. A ação, repetitiva, estas que executamos entre o acordar e o dormir, atraem minha atenção. Gosto de observar o dia-a-dia, tanto os meu como o dos outros, os gestos e as ações, e percebo que existem padrões, moldados em pequenos rituais que nos regem de acordo com nosso estado presente, desenhando trajetórias e maneiras do fazer, que se transformam, sempre, sem que percebamos...
Rituais do cotidiano.Penso: somos quem somos por que fazemos o que fazemos? Ou fazemos o que fazemos por que somos quem somos? Por que não faço as coisas de forma diferente? Por que mesmo me condicionando a mudar, o garfo sempre traz comida à boca da mesma maneira, o banho lava meu corpo na mesma ordem, e a caneta realiza uma trajetória por minhas mãos a segurando sempre da mesma forma? Será que faço as coisas sempre da mesma forma?
Faço um recorte destes padrões e os coordeno, numa performance, num espaço público.
Me agrada saber que as obras que executo são efêmeras. Isto faz com que eu tenha que me reinventar toda vez que executo um trabalho, ainda que seja a mesma ação. Sei que este momento nunca se repetirá. Nas performances que realizo, o inusitado choca com a realidade das pessoas, e as desloco, por um breve momento, de seus cotidianos. Ao retomarem suas trajetórias, ao abrigarem o olhar para retornarem às suas vidas, estamos, todos nós, completamente contaminados. Por idéias, dúvidas, respostas, perguntas e questionamentos. E a memória, ainda que recriada, se concretiza para poder ser recontada, inventada para justificar a imagem que ficou gravada na mente. Jamais seremos os mesmos, eu e os outros, artista e público.
Ainda que agora tenha que me encaixar em 450 palavras ou no máximo 2790 caracteres (optei pela segunda), tenho a certeza de não ser mais o mesmo. Paro de analisar meu processo de trabalho, e aos poucos retorno a mim. Afinal, daqui, o que restará? Recomeço, reformulando novas perguntas, pensando em novas formas de reescrever e falar sobre mim mesmo. Agora, este exercício, durará para sempre."
Publicado em 07/10/2008
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