19/03/2008

20 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

QUEBRANDO PARADIGMAS
por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Marcelo Gandhi

Cartaz do denCidade. Arte Mário Rasec.

Edmond Couchot comenta no livro A Tecnologia na Arte que o “desejo de comunicação em estado puro, sem intermediário cultural, estabelecido sem desvio, do artista ao espectador” pode se manifestar de uma maneira intensa, mas para isso é necessário sair dos circuitos de difusão tradicional (galeria, museus, exposições particulares ou coletivas) e buscar um contato direto e o mais estreito possível com o público. “A arte desce de seu pedestal, quer conquistar a rua, quer se oferecer a todos.” Nesse sentido as intervenções urbanas, problematizam o senso de obra de arte.


A intervenção urbana designa ao artista um novo estatuto e coloca à arte um novo paradigma. Trata-se do artista etnógrafo. A arte transforma-se num mapeamento etnográfico de comunidades, porém diferente da ciência que colhe o dado e o analisa em ambiente asséptico, a intervenção urbana, é um gesto sobre aquilo que está em movimento, ela é provocativa do lugar, das pessoas. Os ganhos são urbanísticos, estéticos, políticos, cognitivos, éticos entre tantos outros.

É com esse conceito que percebemos o projeto denCidade, em realização, no bairro Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte de Natal. Vale salientar que congregar 23 artistas de vários estados brasileiros e com participação de artistas potiguares é uma das tarefas felizes desse projeto. Além de realizar esse intercâmbio artístico e agir diretamente no bairro, com o apoio e integração da comunidade e diversas entidades locais que o acolhem, com generosidade, como o Conselho Comunitário Nair Bezerra e Alvorada IV, o projeto possibilita o despertar da realidade através da arte.


A poética penetrante no espírito dos artistas é alcançar a apresentação da realidade como matéria bruta de criação o que sugere uma imersão e a definição de um caminho que só é percorrido através do firme propósito da afirmação crítica e social da arte.É preciso acordar para que o artista solicite e exija a libertação das energias expressivas reprimidas pelas instituições que existem também para contribuir na criação de novos conceitos, propostas, linguagens e vocabulários. Isso é urgente para um espaço-tempo reconfigurado há muito. Para tanto, sugerimos que a cidade é o campo de pesquisa; alimento para a construção de poéticas várias, e o denCidade é um exemplo pleno de todo esse processo.

Publicada em 18 de março de 2008

Um comentário:

Marcela disse...

Muito bom tudo isso. Quero saber como artistas de outros estados podem participar?