23/09/2008

47 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

FV
MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA
por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Afonso Martins



Foto da ação que circulou pela internet

Nas últimas semanas duas ações causaram polêmica no meio artístico! Em Bogotá (Colômbia), um coletivo em prol da arte livre e que pretende lutar contra a "burocracia da arte" roubou uma gravura do pintor espanhol Goya e em São Paulo/SP, 30 pichadores invadiram e picharam, do chão ao teto, a galeria Choque Cultural, que se auto define como "uma galeria de arte contemporânea que dialoga com o underground".


O grupo Comando Arte Livre S-11 (em referência ao dia 11 de setembro), que roubou a gravura "Tristes Pressentimentos", alega que Goya rompeu, em seu percurso, com instituições, políticos e exploradores e, por isso, a obra deve seguir para o povo que é excluído de exposições e não tem dinheiro para pagar entradas em museus. Já os organizadores da mostra afirmam que isso é balela e que Goya sempre foi burguês e não tinha esses conceitos em sua poética. Já o movimento "PiXação: Arte Ataque Protesto", declarou em carta convite aos participantes que a ação foi um "total protesto" contra a galeria, em virtude desta trabalhar com a "comercialização, institucionalização e domesticação da cultura de rua" e que a galeria não representa a cultura urbana da street art. A galeria, por sua vez, entrou com uma representação na polícia alegando prejuízos entre dez e quinze mil reais.


Podemos refletir sobre a questão dos abusos de poder e discursos existentes, dos dois lados, nas entrelinhas dos fatos, tal como acontece contra a Pinacoteca do Estado, em fase terminal, no Palácio da Cultura, em Natal/RN. Podemos, à revelia, ocupar espaços de obras de arte a tecnoburocratas? Podemos impedir o acesso às obras dos artistas com valores onerosos para ingressos? Podemos criar mecanismos, discursos e estratégias para calar as opiniões contrárias? Podemos subverter um movimento de rua, de natureza urbana, acessível às massas e colocá-la no mesmo processo de exclusividade às minorias? Podemos nos aquietar diante de tudo?


Os acontecimentos, antes de serem julgados como "atos criminosos" ou de "delinqüentes" que serão submetidos às punições existentes em lei, refletem, querendo ou não, uma agitação real contra a pressão dessa sociedade, que tem como fundamento a violência muitas vezes velada, cuja dinâmica é ditada pelo mercado, discursos e conceitos que não seduzem mais as pessoas.


Vemos, cada vez mais, as inquietações transbordantes de muitos jovens que têm suas liberdades e direitos violentados, partindo para ações da mesma ordem, às vezes extremas, que se traduzem na linguagem de uma real cultura urbana e geram debates acerca dos limites da privação, da burocracia e da convivência, trazendo à tona a voz livre que o poder tenta subjugar, como sempre foi em todos os tempos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olha jean seu texto está muito legal, que situação heim .. essa quem está com a razão ...

Giberto Gil , prega que a arte hoje em dia é de domínio publico, então todoas as obras deveriam estar em locais publico , sem cobrar ingressos( mas isso me lembra cuba ) já a galeiras particulares precisam sobreviver e para isso tem que cobrar ....

FERMENTAÇÕES VISUAIS disse...

Acho que existem os dois lados, mas existe algo maior aí que não é muito percebido que é a essência do trabalho. Acho que grafite é algo de rua, no momento em que passa para uma galeria é outra coisa feita com a técnica do grafite...até aí tudo bem...o que acho delicado é conceituar essa outra coisa como grafite. Daí entendo uma certa animosidade dos que realmente estão dentro do movimento e não é contra quem produz para as galerias, mas no sentido nominal mesmo atribuído a este outro tipo de trabalho...acham que há o intento de aproveitar o momento up...e aí nesse sentido, o sistema é perverso e vai destuando o que é raiz...domesticando mesmo, como disse o pixador.