14/10/2008

50 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

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EXEMPLO DE GESTÃO PARA PINACOTECAS
por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins



Pinacoteca de SP e de AL, exemplos de gestão

Fernando Gurgel inaugurou uma individual na Pinacoteca Universitária de Maceió/AL na semana passada. Ele foi selecionado no edital da temporada 2008 (que contempla 6 artistas por ano) e teve passagem, hospedagem, catálogo e pasmem, coquetel. Tudinho foi bancado pela Pinacoteca que pertence a Universidade Federal de Alagoas, UFAL. Isso nos chamou a atenção e resolvemos fazer, nesta edição, um paralelo com outras Pinacotecas. Na próxima semana continuaremos enfatizando os artistas potiguares, com texto sobre a obra de Gurgel.

Na introdução do edital alagoano percebe-se que a direção da Pinacoteca sabe o que quer e tem uma política desenvolvida para o espaço priorizando a qualidade e não a quantidade. Vejamos: A Pinacoteca Universitária da UFAL, criada em 1981 e integrada ao Espaço Cultural da Universidade, busca desde o seu início expor e divulgar a arte, sem fronteiras, reunindo obras que compõem seu representativo acervo, bem como promover debates, visitação e atividades correlatas as suas funções pedagógica e cultural. A partir de 1999 a Pinacoteca não se ateve apenas em tratar de obras que recorram a suportes tradicionais, priorizando o seu direcionamento para a arte contemporânea. Neste enfoque considera que o contemporâneo é uma forma de dirigir o olhar para a tradição, não implicando o seu descarte, mas a sua reinserção diferenciada na história.

Não podemos deixar de falar na Pinacoteca de São Paulo com 103 anos e situada como uma referência internacional, entretanto esse trabalho começou com a consciência do papel social, educativo e histórico do museu, em 1970, com a criação do Conselho de Orientação da Pinacoteca de São Paulo que além de direcionar a compra de obras, soube adequá-las às condições museológicas de excelência.

Ou seja, de um espaço restrito a especialistas, transformou-se em um lugar de inclusão, recebendo os mais diversos segmentos da sociedade; de uma única e imutável exposição com obras do acervo, criou um programa de mostras temporárias associado a mostras de longa duração com trabalhos de seu acervo; de um corpo funcional composto por um conservador, como estipulava sua regulamentação de 1911, passou a contar com mais de 50 técnicos e cerca de 100 funcionários, todos altamente qualificados. Redimensionou o relacionamento com a escola formal e conquistou um papel de aliança e complementaridade. No lugar do trabalho amador, ainda que dedicado, colocou a museologia como referencial científico para propor e programar suas políticas. De uma iniciativa isolada do Estado, constituiu-se em ação articuladora das esferas pública e privada.

Outro exemplo vem da Pinacoteca da Universidade do Rio Grande do Sul, chamada Barão de Santo Ângelo, que trabalha com o patrimônio artístico e documental do Instituto e realiza um intercâmbio com a produção artística contemporânea.

Percebe-se que o desenvolvimento de um plano de longo prazo, um projeto de vida e ações para a Pinacoteca é essencial para o seu desenvolvimento. Isso nos falta no Rio Grande do Norte. A exposição do II Prêmio Abraham Palatnik, que estava marcada para acontecer na Pinacoteca no começo de outubro teve que ser adiada pela inviabilidade técnica e estrutural em virtude da implantação da Governadoria no local. O acervo não tem reserva técnica estruturada e muito menos um plano de vida, de exposições, de arte-educação, quanto mais um edital elaborado que banque exposições. Alagoas e São Paulo dão exemplos que podem ser seguidos.
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Publicado em 14 de outubro de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre o Fermentações chamando atenção para pontos simples, porém necessários. Triste ver que a nossa Pinacoteca está nesse estado...Gostaria, realmente, de que houvesse uma mudança...um retorno a uma política honesta, de incentivar a arte e os artistas. Mas, apesar de tudo, acredito que com boa vontade tudo vai melhorar...

Norminha