21/10/2008

51- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

FV
FERNANDO GURGEL, RENOVAÇÃO CONSTANTE
por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins


Mergulho, tela de Fernando Gurgel

Todo bom artista em sua trajetória realiza revoluções, sejam rápidas ou lentas. Quantas transformações são possíveis na trajetória de um artista que começa a pintar aos 11 anos, aberto e antenado com a dinâmica da sociedade na qual vive? As de Fernando Gurgel são inúmeras. Sentimos, ao escrever esse pequeno texto, que não é nada fácil tecer uma reflexão crítica sobre sua obra. É Desafiante escrever sobre um artista que diz tanto com a sua obra e pensamento, de modo que esse o texto esteja em boa medida.

Segundo Dorian Gray, em seu livro Artes plástica no Rio Grande do Norte, Gurgel Cria sempre uma linguagem nova para as suas fases de pintura que são muitas, onde os seus trabalhos são resultado de suas novas experiências.

Inspirado pela pesquisa do pai, Deífilo Gurgel, o artista inicia pintando naïf com uma linguagem própria. Extremamente disciplinado e exigente com sua produção, sai da arte ingênua, passa pelo surrealismo e exercita-se nas formas gráficas chegando a uma elaboração crítico reflexiva da modernidade. Sobre a sua última exposição, o artista escreve: “A série “Nós” foi pensada e construída através do olhar e o sentir do tempo presente. Do cotidiano das cidades onde a relação homem/espaço aborda aspectos variados desse contexto. Da urgência do tempo acelerado traduzido em dias, horas, números, ao vôo solitário do homem sobre a arquitetura urbana ao observar do alto a paisagem imóvel. Dos passageiros seguindo viagem incomunicáveis entre si, aos navegantes ligados tão distantes através da rede. Homem transformado em cidades, em construções, em cinzas e, para amenizar, em obras”.

Com sua extraordinária capacidade de renovar-se, o artista não finda no rigor das criação. Tem contribuido como formador, ministrando oficinas. E como diz Franklin Jorge “apura-se a cada dia, como que cônscio de que pode ir sempre mais além”.

Em suas reflexões sobre as artes visuais na cidade diz que a beleza de Natal pode ser devoradora, como a estratégia usada por Circe, que prendeu Ulisses em seu castelo de prazeres. Quando o herói pensava ter passado apenas cinco dias, havia passsado cinco anos.

Fernando Gurgel é consciente de seu ponto de partida, das inúmeras alquimias que realiza para chegar a uma imagem. As colagens da infância, a linha do tricotar da avó Zulmira, as ruas, veredas e personagens da cidade dentro das inúmeras cidades, das vilas às metrópoles que estão presentes em seu espírito. Ah, e vale lembrar que Fernando Gurgel é um dos artistas que tem obras no acervo da Pinacoteca do Estado.
Publicado em 21 de outubro de 2008

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