12/11/2008

54 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

DO BINÁRIO À CORDURA
por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Afonso Martins

Mês movimentado nas artes visuais em Natal/RN. Nos dias 13 e 14 teremos a abertura do XII Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal e o II Salão Abraham Palatnik respectivamente. Tivemos a exposição A-Binário, de Vinicius Dantas e no dia 14 encerra-se a exposição Cordura, de Cláudio Damasceno.

Em A- Binário, exposição apresentada no Espaço Agência Cultural, do Sebrae, Vinicius Dantas conseguiu estruturar trabalhos recentes com uma pequena mostra dos trabalhos excelentes executados nos últimos anos, em particular para o políptico A Chamada, na qual questiona e instiga o expectador –leitor da obra, a penetrar em um universo voyer guarnecido por uma crítica marcante aos sistemas de realits shows e suas câmeras, melhor ainda, ele nos coloca diante de questionamentos que nos levam a inevitável pergunta: sou eu (até quando) a assistir um realit show desejando os corpos perfeitos? Meu desejo passa pela mídia? Envelhecerei com os mesmos arcabouços da TV que hoje se traduzem em fórmulas de sucesso copiadas à exaustão? A auto-imagem foi explorada com habilidade nas obras apresentadas e no vídeo em parceria com Artur de Souza. Vale ressaltar que a excelente montagem da exposição contou com a orientação da experiente Sayonara Pinheiro.

Cláudio Damasceno, perfaz com firmeza sua sensibilidade nas cores vermelho, amarelo e azul predominantes nas 32 obras apresentadas na galeria do Núcleo de Arte e Cultura, na exposição Cordura. E é com força que o movimento ganha corpo na sugestão do jogo de imagens geométricas e efeitos ópticos advindos da observação (atenta) prolongada. Os cartemas apresentados, sete ao todo, nos levam de encontro à nossa fragilidade humana ao mesmo tempo que aludem à nossa inventiva força dentro do próprio jogo de imagens fixadas lado a lado, em posições inversas ou diferentes, formando uma unidade harmônica na repetição, na continuidade, no arcabouço cotidiano que quebramos heroicamente frente aos semelhantes questionamentos de Vinicius Dantas, em A-Binário, e instigam a desvendar o imaginário de nossos dias no (des)alinhamento lúdico entre a obra e o público.

As duas exposições são exemplos que apontam para avanços das artes visuais potiguares nesses últimos anos. Nesta semana teremos a abertura de duas grandes mostras além do encerramento das inscrições do Prêmio Thomé Filgueira. Não há como pensar em um caminho de volta. A tendência evolutiva nos leva a esperar as contínuas mudanças positivas e a quebrar as impossibilidades catastróficas das direções errôneas que alguns artistas ou gestores culturais tentam impor nesse percurso. Excelência e sensibilidade é o que precisamos nos passos adiante.
Publicado em 11 de novembro de 2008

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