10/12/2008

58 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA


HENRIQUE JOSÉ, ORGANIZAR PARA FORTALECER
entrevista para o Fermentações Visuais, por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins

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Dando continuidade às entrevistas com os premiados nos salões de Natal, segue aqui a conversa com Henrique José, premiado no II Salão Abraham Palatinik, com a obra Goleiros.
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Você pode dizer um pouco do processo dessa obra premiada?

Eu tenho um trabalho artístico atualmente, que busco ser o mais pedagógico possível, esta coisa de interagir, brincar, estabelecer relações com a obra e o público é minha maior preocupação... penso que o lúdico é uma chave que pode abrir a percepção das pessoas para outras possibilidades na vida... O trabalho goleiros foi pensado em 2006, quando realizamos um coletivo de fotógrafos do RN, PB e PE, realizamos uma exposição com o tema "templo sagrado", tendo o corpo e o futebol como relação... Esta exposição percorreu os três estados, uma articulação da ZooN, Ensaio e Canal 03. Com este trabalho penso provocar reações entre o estático e o movimento, entre as nossas atitudes ofensivas e defensivas na vida e suas conseqüências... Então busquei esta metáfora do goleiro, que está de prontidão, agindo na defesa. Brinco com fotografias de futebol de pelada que realizei em Pium e ampliei uma foto grande de uma pessoa na posição de goleiro, onde os rostos de todos nós podem ser colocados ali e então podemos estar frente a frente conosco, sendo ao mesmo tempo um atacante que projeta um gol luminoso no painel e um goleiro que precisa deixar de ser estático, passivo...

Qual a sua formação e como ela contribui (ou não) para o seu trabalho artístico?

Minha formação é bem diversificada... além de militar no movimento estudantil e social nos anos 80, já estava inserido nas artes como fotógrafo e tive uma formação meio autodidata em eletrônica e informática... Tecnologia e arte para mim, sempre andam juntas, depois cursei jornalismo na UFRN e trabalhei como reporter-fotográfico., entrei em contato com o pessoal da poesia visual, do poema processo e tive uma grande influência destes mestres, trabalhei na área de publicidade, com design e internet, fiz um curso de tecnólogo de lazer e qualidade de vida no CEFET e agora estou no mestrado em antropologia na UFRN. Sou professor de fotografia na UNP, FATERN e SENAC, além de realizar trabalhos como educador popular em comunidades e projetos culturais e sociais através da ONG ZooN, vejo que o importante é minha formação humanista, em procurar compreender o ser humano em suas dimensões e relações sociais, culturais e espirituais, pois sei que somos um todo!, não podemos ter um olhar segmentado, cada um tem sua história de vida e precisamos conhecer as pessoas e respeitá-las, a mesma coisa com o nosso planeta, nosso corpo, nossa consciência.

A cidade (administradores públicos e privados) favorece o trabalho no campo das artes visuais?

Vejo que estamos crescendo, mas quando falamos de administração pública existem dois fatores importantes, inicialmente a possibilidade recente que temos de administradores sensíveis as novas tendências e experimentações da arte, principalmente nesta relação com a tecnologia e a nossa identidade... Natal estava vendendo sol, mar e prostituição, termina que mais uma vez ficou fora do circuito turístico pela falta de algo mais... mas temos cultura e arte para mostrar, não devemos nada a Paraíba, ceará e Pernambuco, o que acontece é a mentalidade daqui que não entendeu a possibilidade de agregar valor a nossa cidade com o incentivo a nossa produção cultural como diferencial para o turismo...Outro ponto fundamental são as políticas públicas, temos que ser propositivos junto a estes administradores, chegar junto para cobrar, mas para fazer junto também, é preciso administrar com políticas públicas de incentivo a produção, a formação e a distribuição dos bens culturais, inclusive com visão de continuidade, como têm que ser uma política pública...

Como você percebe a evolução das artes visuais em Natal/RN nestes últimos anos?

Já faz alguns anos que acompanho este movimento, fico feliz em ver pessoas que eram tidas como "alternativos" ou "malucos", cada vez mais reconhecidos pelo seu trabalho, temos uma geração de artistas que está na estrada desde os anos 80, que vem ganhando reconhecimento nos últimos anos, estas pessoas estão sintonizadas com a cena contemporânea nacional e internacional e tenho certeza que estão deixando outros valores para esta nova geração. Tenho o exemplo de Guaraci, Sayonara, Max e muitos outros que quebram com aquela coisa bidimensional, óleo sobre tela... Nada contra isso, mas estávamos meio por fora... Que bom que estamos vivendo um novo contexto, com diversos salões, prêmios, exposições, grupos... Estou muito otimista com as possibilidades estéticas e visuais de Natal... Vejo que ainda falta entrar no circuito nacional, ter galerias adequadas para expor e fortalecer o intercâmbio, residências... E principalmente, as pessoas terem a noção mais clara da necessidade de organizar o movimento...

Você desenvolve alguma pesquisa? Poderia falar-nos sobre ela?

O pessoal da minha família, fala que eu não paro, mas eu sou assim mesmo, realizo coisas simultâneas, aparentemente paralelas... toco várias coisas ao mesmo tempo... Atualmente estou trabalhando em algumas frentes de pesquisa: Uma delas é o mestrado em antropologia social, estou construindo uma etnografia das Mangabeiras, é um projeto de mais de 05 anos que espero concluir em 2009; Outra é um processo pedagógico que estou maturando chamado Educação Lúdica do Olhar, que consiste em práticas e reflexões de uso pedagógico da fotografia e do vídeo como instrumento de alfabetização visual; um outro ponto que estou ganhando gosto é o meu trabalho autoral, tenho muitas coisas na cabeça que pretendo começar a experimentar, são objetos, engenhocas que fazem ao mesmo tempo um resgate de práticas tecnológicas antigas como projetores, refletores, máquinas fotográficas artesanais, animações e a cibertecnologia...

9 - Quais os planos futuros?

Muitos... Pretendo investir mais em meu trabalho autoral e poder tirar da geladeira algumas idéias de objetos e instalações... Acho que o mais importante em ter participado deste salão Abraham Palatinik foi perceber que eu não estou tão por fora assim, se for um pouco mais persistente posso até fazer alguma coisa legal... mas para isso tenho que pesquisar mais, conhecer mais os trabalhos dos outros e aprender muito!

Publicada em 09 de dezembro de 2008

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