04/02/2009

FERMENTAÇÕES VISUAIS_ TRIBUNA DO NORTE-TODA TERÇA

FOTO: Eduardo Verderame

O texto que segue é um pequeno relato de um artista que compartilhou suas experiências no PROSPECTA_2009. O relato completo e fotos encontram-se no http://mapeia.wordpress.com/eia-em-natal-acorda/


ACORDA!
Por Eduardo Verderame

Na abertura do PROSPECTA_2009, apresentei o grupo em linhas gerais e exibi o vídeo do EIA 2005. Em seguida, abrimos para debate e a conversa só parou mais de uma hora depois, só porque tinha de fechar a Capitania. No papo, foram surgindo os assuntos: O que move o EIA ou situações da arte/política/poética? Como foi a semana EIA deste ano? Como fazer funcionar uma iniciativa independente e realizar projetos com essa estrutura?
Do lado Potiguar, o pioneirismo na área da performance, o Coletivo Leila Diniz deu um alô, o Giovanni lançou citações teóricas e ficou no ar um desejo de começar. Quando fomos pedidos para elaborar uma oficina (workshop, vivência, TAZ ou como queira chamar) com a turma de Natal, me incumbi da tarefa e pensei em dividir o tema em três partes. Em cada dia estaria relacionando a uma esfera de atuação do ser humano: a esfera pessoal, a grupal e a do grupo na cidade. INDIVÍDUO COM INDIVÍDUO: Desenvolver dinâmicas envolvendo as percepções individuais, as sensações, o autoconhecimento. INDIVÍDUO COM GRUPO: Desenvolver dinâmicas que estimulem a participação coletiva, ou que conectem grupos de pessoas, ou que levem para além da esfera do pessoal e se relacione com o outro. Potencializando a relação e a necessidade de agir em grupo. GRUPO NA CIDADE: Desenvolver dinâmicas que estimulem a participação coletiva na cidade através de percursos, roteiros, derivas. Ativar camadas de significado, compreender a cidade de um modo mais profundo.
Primeiro dia: o corpo imediato. O grupo encontrou-se no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão e fomos para a praça em frente, onde sentamos em roda e começamos a conversar. Primeiro, nos apresentamos e pedimos que cada um se apresentasse e dissesse do seu interesse e expectativa na vivência (ou workshop, TAZ, oficina, como queira). Sugeri um exercício: escolher entre os participantes um par, que não seja conhecido. Caminhar de olhos fechados e ser guiado por este par. O guia tem responsabilidade sobre aquele que é guiado. Na volta, o guia cerra os olhos e é guiado pelo outro. A confiança é fundamental nesse momento. Na volta, todos contaram suas experiências, foi o momento em que todos compartilharam suas experiências pessoais. Logo depois, cada um de nós escreveu em uma carta EIA uma dinâmica para o dia seguinte.
Segundo dia: a construção do grupo. Sentados em roda, escolhendo um método de acaso dividimos os três grupos, que sairiam pela cidade, um comigo; um com Guga e um com Milena e, igualmente ao acaso, distribuímos as cartas. Como ninguém reclamou, partimos o quanto antes. Cada grupos realizou pelo menos uma e acompanhou cerca de sete performances, ou ações urbanas criadas por eles mesmos e escritas nas cartas. O Homem-Lagarto subiu na árvore e gritou: ALTO! ALTO! Eu circundei a praça cego, me guiando apenas pelo piso demarcado. Missão ingrata mesmo foi a de recolher lixo pela cidade e colocá-lo na lixeira.
No Beco das Cores, um encontro com o Ivo Maia e suas pinturas. Bom, entre as outras “missões” das cartas: descobrir o segredo de algum prato da cidade – essa ficou com Ronaldo que descobriu o segredo de uma boa Tapioca: ingredientes de boa qualidade, bom atendimento e amor!
Convencer três pessoas a fazer uma atividade em círculo no chão; convencer alguém de que é futuro; conseguir uma pessoa num ponto de ônibus que lhe conte um sonho (este foi Ricard8 San Martini cumpriu). A frase do Hermann Hesse ficou com Clara no Sinal vermelho: “Não se aflija pelas questões espirituais: todos temos um Deus e um diabo dentro de nós”. E o Ricard8 teve sua dinâmica em roda. O relato do sonho foi particularmente muito bonito. Os três grupos se encontram e contam suas experiências, no dia seguinte a proposta foi trazer um personagem e um elemento.

Terceiro dia: criação coletiva: acorda! Alguns tinham personagens outros tinham apetrechos. Eu tinha uma mancha roxa pintada no rosto e um band-aid no supercílio esquerdo. O Ronaldo trouxe três comunicadores (rádios) dois dos quais não estavam devidamente carregados, um pequeno botijão descarregado, um capacete amarelo - que sugeri que ele usasse durante o percurso, e uma corda. Eu e Guga nos apossamos da corda e começamos a brincar. Virou jogo, virou nó, virou varal. Propus-me ir amarrado, propuseram irmos todos carregando a corda e imediatamente o motivo com o qual brincar estava feito. Um jovem que vivia na praça se aproximou e foi acolhido pelo grupo. Ele veio a ser o líder da expedição (por onde?) pelo centro. A corda acordou na ladeira. Eu gritei, outros gritaram: “ACORDA! ACORDA!” e o grito ficou. Pandeiro, gaita e megafone. Tigre prateado de mil cores, o burocrata das luzinhas de Natal, o moleque de rua que anunciava: “ACORDA! ACORDA!” e o povo das lojas teve de vir pra fora para ver o que é que há. O grito de vinte, quando vem da sua vontade é alto: “ACORDA! ACORDA! ACORDA!” (me solta!!!) o Ronaldo quando tinha o megafone na mão falava sobre os “escravos do tempo”. Impossível lutar contra a corda. Agora começou a ficar legal. Na Catedral, sentamos em frente ao altar. Depois, mais corda dentro de uma loja e de uma passeata dos servidores da saúde, onde o ACORDA! ACORDA! Foi interpretado como apoio – e era. Chegamos à praça padre João Maria. ACORDA! ACORDA! ACORDA! Eu Fui amarrado, na realidade, tinha o controle absoluto da situação eu estava seguro de que nada me aconteceria… De volta à praça de origem, conversamos. Pessoalmente expus que considerava aquele um exemplo bem-sucedido de ação conjunta e que daquela vivência poderia surgir uma organização similar em Natal, que se encontrasse com certa frequência e que pensasse ações juntas entre si. Quanto mais juntos, mais fortes.

Um comentário:

Sartief disse...

A foto é de Jean Sartief...