01/07/2008

35 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

d
E POR FALAR EM ARTE E TECNOLOGIA...
Por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins


O texto de hoje é para aqueles artistas que pretendem se inscrever no II Salão de Artes Visuais Prêmio Abraham Palatnik. Já apontamos, em escritos passados, alguns equívocos no regulamento e no salão anterior. Hoje as questões são: o que é tecnologia? O que está acontecendo no mundo em termos de arte e tecnologia? Quais os conceitos colocados?


Em 09 de junho foi aberta, na China, a coletiva Synthetic Times: Media Art China 2008. Nessa exposição a artista brasileira Rejane Cartoni apresentou a obra OP_ERA: Sonic Dimension (é possível fazer uma visita virtual). O sucesso da obra foi tão grande que a artista foi selecionada para falar por todos os artistas na cerimônia de abertura. O conceito da obra centra-se em "ambientes imersivos-interativos, um híbrido de espaço de dados e espaço físico, além de dispositivos que servem para produzir ilusões espaciais. São promessas de novas interfaces através das quais o humano e o computador poderão comunicar simbioticamente. Nesses ambientes (no caso ideal), o comportamento 'natural' do agente humano está associado ao comportamento 'artificial' do computador de maneira inseparável. Cada ação ou contato estabelecido sob tais circunstâncias gera compreensão equivalente a qualquer uma das partes."


São inúmeros os artistas que trabalham com interfaces como a genética, o corpo humano, a robótica, a biologia, outros animais etc… E aí nos perguntamos, o artista dá conta de todos esses conceitos? Não! Ele trabalha em conjunto com outras áreas. O projeto é concebido pelo artista que pesquisa nas várias ciências e convida, solicita, seduz, engloba cientistas, engenheiros, matemáticos, pesquisadores e outros profissionais que, em diálogo com o criador, viabiliza a obra.

Um artista brasileiro que provoca polêmica é o notabilizado Eduardo Kac, que criou em conjunto com um laboratório francês uma coelha fluorescente GFP, Alba. Além do animal, Kac já trabalhou com bactérias, plantas, peixes, amebas e ratos igualmente fluorescentes. Estão todos no sistema ecológico artificial de O Oitavo Dia, seu terceiro trabalho transgênico. Em 1997, introduziu um microchip (transponder, de identificação) em seu calcanhar esquerdo, o título da obra é "Time Capsule".

Já Paulo Brusck, realizou, em 1976, experimentações com aparelhos de raio X, eletroencefalógrafos e eletrocardiogramas, tomando os registros dos aparelhos como recursos gráficos. O artista criou uma correspondência entre os estados de ânimo e os efeitos gráficos produzido pelos aparelhos. Essa pesquisa resultou no livro de artista: O Meu Cérebro Desenha Assim (1976), um vídeo e um filme em super 8.

As décadas de 60 e 70 são caracterizadas também por uma explosão dos meios e é dessa época que o artigo de Walter Benjamim A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, se populariza. A tecnologia dos anos 60 abriu novos e insuspeitadas possibilidades à criação artística. Os artistas conjugam metafísica, tecnologia, arte e ciência. Essas interfaces só têm se ampliado!

Muitos concordam que o uso do computador para a feitura de arte pode ser datada em 1959, na Escola Politécnica de Stuttgart, quando Théo Lutz cria poemas clássicos e não uma obra com características dos "médiuns" utilizados.

A palavra tecnologia vem de dois vocábulos gregos: τεχνη (tekno) — "ofício" e λογια (logia) — "estudo" e é tão antiga quanto a própria humanidade; envolve o conhecimento técnico, científico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento.

Outros artistas trabalham com suportes avançados, conceitos que são híbridos de várias áreas. Há aqueles que estão preocupados com as interfaces entre corpo e máquina ou estão trabalhando no campo da body art e da bioarte, como por exemplo o australino Stelarc e a francesa Orlan que promovem a crescente simbiose entre a carne e a técnica; o orgânico e o inorgânico, problematizando as novas configurações corporais.

Se quisermos provocar desenvolvimento nas artes visuais do RN é importante lembrarmos que uma coisa é a proposição do salão, outra coisa são as obras apresentadas. Para os artistas há dois caminhos quanto a esse salão: ou se inscrevem com uma obra que se sintoniza com as questões contemporâneas e a produção atual e a tecnologia ou não se inscrevam. Acreditamos que isso é uma coisa chamada ética e coerência.

CURTAScurtasCURTAScurtasCURTAScurtasCURTAS

Acontece até 26 de julho a V edição da Bienal de São Tomé e Príncipe. Mais: http://www.bienalstp.org/
...

Inscrições para o Salão de Artes Visuais do 9º Festival do Instituto de Artes (Feia 9), da Unicamp, em Campinas (SP), até 25 de julho. Mais: http://www.feia.art.br/
...

Segue até o dia 2 de julho de 2008 as inscrições para o 7° Encontro Internacional de Arte e Tecnologia. Mais: http://www.cultura.gov.br/
...

Publicado em 01 de julho de 2008

2 comentários:

VITORIANO disse...

muito bom o texto de ontem!

Anônimo disse...

Cara, muito forte isso...e o aprendizado? Como posso evoluir também se não apresentar o que eu produzo? Tá, tenho minhas dúvidas quanto ao que é melhor apresentar, mas quem resolve? Eu!!! Não vejo uma palestra sobre isso...estou estudando as obras de Palatnik e Kac e outros, mas também vejo que nossa realidade é um pouco distante dessa tecnologia ou sou eu que sou um pouco distante e agora estou mergulhando nisso, enfim... mas agora bate o medo, inscrever ou não inscrever?

Dd