16/09/2008

46 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

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A arte de Zaíra Caldas
por Sânzia Pinheiro, Jean Sartief e Afonso Martins



Alberto Tassinari, ao discutir o espaço moderno, diz que “a passagem da fase de formação da arte moderna para o seu desdobramento (arte contemporânea) se dá por uma inteira opacidade da superfície do quadro.” O espaço moderno da pintura de Cézanne é o vidro transparente através do qual se vêem as coisas. Essa transparência é em parte obstacularizada pela trama das pincelas, pois o plano da pintura é em parte naturalista e em parte a própria destruição do naturalismo. Esse dinamismo interno é uma contradição que vai de 1870 até a segunda metade do século XX, quando o espaço da arte moderna torna-se manuseável. O espaço moderno torna-se um espaço do fazer. Isso, em intensidade crescente, vale para Ponte de Maincy (Cézanne), Telhados em Céret (Braque), Guitarra ( Picasso), Ritmo de Outono ( Pollock) e Fool´s House (Jarper Johns).


Zaíra Caldas é pioneira, no Rio Grande do Norte, no manuseio do espaço da tela. Constrói formas com cascas de árvores que, depois de passarem pelo ácido nítrico, são mergulhadas no cal e coladas sobre as telas. Imagem sobre imagem. Imagem gerando imagem ao sabor do observador. Desenhista, pintora, gravadora, escultora, ceramista, tapeceira e poeta, a artista expressa, em suas obras, o movimento de seu espírito usando, para isso, diferentes linguagens. Sua trajetória evolutiva é um testemunho de independência cognitiva.


A sua notoriedade revela-se nos anos 60, quando realizou uma antropologia visual, pintando portões, fachadas e varandas das casas de Recife e Olinda. Mas foi nos anos 80 que a artista se singularizou, criando texturas com o material orgânico.


Possuidora de grande técnica, Zaíra constrói formas que lembram os manguezais, um dos estuários mais ricos em diversidade do planeta. O observador vê emergir figuras míticas e fantásticas. Para Câmara Cascudo, nos trabalhos de Zaíra, “a tonalidade é de matiz crepuscular, de penumbra serena, (...) numa coloração estranha, transparente, cor do tempo”.


A artista diz que seu trabalho nasce da escuta de sua interioridade. Meu trabalho é irreal, não trabalho com o abstrato. Toda rosa é irreal, é transfigurada.


Autodidata e pesquisadora incansável, suas buscas levam-na à escultura com acrílico, ao alumínio, ao bico de pena, ao cimento, a caixas de papelão de formas e tamanhos variados, a garrafas plásticas, ao acrílico etc. Seus painéis em alumínio e ferro estão em cidades como Fortaleza e Brasília, entre outras capitais.


A obra de Zaíra Caldas chama atenção por seus aspectos particulares, subjetiva e original em cada criação possibilitando às pessoas a descoberta diversa de inúmeros cenários artísticas. É dessa comunicação direta com o público- não por meio de signos e símbolos retirados da cultura de massa e do cotidiano, mas da natureza – que a artista constrói intuitivamente campos fantásticos que remetem, aí sim, a cultura de massa e ao cotidiano como forma contínua de evolução.


ZAÍRA CALDAS COMPÕE O ACERVO DA PINACOTECA DO ESTADO!
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Até 30 de setembro de 2008 estão abertas as inscrições de propostas para as programações dos CCBNBs Fortaleza-CE, Cariri e Sousa-PB, a serem realizadas durante o ano de 2009 para artistas visuais. Mais: http://www.bnb.gov.br/
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O Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro abriu a exposição "Rubens e seu Ateliê de Gravura", reunindo 80 gravuras de um dos maiores expoentes do barroco europeu, Peter Paul Rubens (1577-1640). Segue até 19/10.
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Na última quinta-feira, 11, o artista potiguar Flávio Freitas participou da exposição de pintura "ARTISTAS BRASILEIROS 2008 - Novos Talentos" no Salão Negro do Senado Federal em Brasília.
Publicado em 16 de setembro de 2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Jean, Parabéns pelo Prêmio Abraham Palatnik. Admiro muito o seu trabalho como artista, jornalista e engajado que é no desenvolvimento da arte potiguar e no meio ambiente tb! Parabéns! Parabéns a vocês todos do Fermentações!

Geison Belgrado

Anônimo disse...

Parabéns a Zaíra Caldas e a seu irmão, Dorian Gray Caldas que recebeu o título Doutor Honoris Causa, no último dia 29 de agosto!

Geilde Fonseca