28/10/2008

52- FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA

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28ª Bienal de São Paulo, será o começo do fim?
por Jean Sartief, Sânzia Pinheiro e Afonso Martins



Foto que circula na internet da ação dos adesivadores


No último domingo, 26, foi aberta a 28º Bienal de São Paulo “em vivo contato” e que segue até o dia 06 de dezembro. Esta edição, desde o começo causou celeuma pela proposta do curador Ivo Mesquita em gerar uma reflexão sobre o próprio papel e modelo das Bienais que existem no mundo.

O curador propõem que o 2º andar do prédio Pavilhão da Bienal fique vazio, exceto pela utilização do espaço para algumas performances e por enfatizar o Arquivo Histórico Wanda Svevo, tido como um dos maiores patrimônios da Fundação Bienal, mas Ivo Mesquita diz que a intenção ao falar do vazio foi uma atitude de impacto. No 1º e no 3º andar acontecem as ações e exposição das obras, além de uma interação com o público pela ludicidade; será possível se divertir, descer de tobogã, assistir shows e até aprender a dançar, perceber o movimento, aprimorar os sentidos e o olhar. Nos outros, as obras convidam a reflexão.

Embora esse esvaziamento pareça um despropósito frente à quantidade e qualidade da produção atual dentro e fora do País, a Bienal do Vazio – como foi apelidada – reflete com ousadia um questionamento que pode ser estendido a salões e editais que multiplicam-se no País, muitos sem aprofundamento e qualidade estrutural como evento de arte contemporânea. A bienal ainda é considerada, historicamente, como uma das mais importantes do mundo.

Se por um lado artistas afirmam que essa reflexão do vazio como ponto para reavaliar uma suposta crise no universo das bienais poderia ser tratado com ações enérgicas, uma vez que a crise é restrita às instituições e não ao universo artístico; por outro lado as artes visuais, mesmo quando se fala de vídeoarte ou performance, quase sempre a obra solicita um público numericamente restrito. E essa talvez seja um dos maiores problemas. Como anuncia Teixeira Coelho, uma tela foi pintada para uma única pessoa apreciar e a crise, talvez seja o tratamento industrial de grande escala dado a esses mega eventos. Os artistas em suas obras solicitam a participação do espectador, que, em sua maioria, necessita de calma, do tempo da contemplação, dos processos sensoriais.

O curador Moacir dos Anjos afirmou que o questionamento ao modelo já é realizado nas 02 últimas edições com o fim do núcleo histórico e das representações nacionais. Feito iniciado em 1981 por Walter Zanini e consolidada por Lisete Lagnado em 2006. Talvez a problemática seja óbvia se nos perguntarmos se não houvesse crise e as verbas fossem suficientes, ela seguiria nessa proposição? Ivo Mesquita discursa para o cidadão comum e para o especialista. A bienal não é para o público paulista, mas para o público brasileiro e estrangeiro, para artistas que se deslocam no sentido de apreender mais desse universo, para críticos, para estudantes, professores e uma infinidade de amantes da arte. Como protesto, alguns artistas estão incentivando a ocupação do segundo andar do Prédio da Bienal com arte urbana de primeira! A Bienal, diz que já criou um esquema antivandalismo. Por que não deixar os artistas ocuparem o segundo andar? Quem é que perde? Um grupo autodenominado '”coladores de stickers [adesivos]" estiveram na quinta-feira, 23, realizando intervenções nas paredes, inspirado em um “Manual para a Invasão da Bienal” de autoria do grupoArac. Ações de intervenção e apropriação não podem ser encaradas como vandalismo e a ocupação também pode ser vista como uma resposta ao descontentamento e elitismo dos modos e dos discursos, além de ser outra forma de repensarmos no vazio - sendo ocupado aos poucos e de forma criativa.

Infelizmente, nessa reflexão do vazio, com o orçamento enxuto do tamanho de uma toalha de mão, foram cortadas as ações que compõe o projeto educativo sempre presentes e fundamental para aproximar o público da arte, esse é que é o começo do fim.
Publicada em 28 de outubro de 2008
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