06/08/2008

40 - FERMENTAÇÕES VISUAIS - TRIBUNA DO NORTE - TODA TERÇA-FEIRA


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Por Lourival Batista (Cuquinha)

Um projeto de curadoria que propõe reunir obras que trabalhem no limite da legalidade, que fiquem num lugar entre arte e crime. Pretende-se levantar um repertório de obras de artistas nacionais e alguns registros de obras internacionais que tenham esse viés. Trabalhos que só a conceitualização pode justificar uma não-punição. Nesses casos, o artista cria uma poética da obra essencialmente questionadora da autoridade instituída, do poder de decisão do Estado sobre os atos do indivíduo e dos dogmas da sociedade em que vive.

Existem crimes que são definidos por auto-preservação radical da espécie como o caso do homicídio, mas outros são exclusivamente definidos por questões culturais da sociedade envolvida. A questão dos hábitos da mulher em sociedades fundamentalistas islâmicas ou a proibição da maconha no ocidente passam por essa discussão. São exatamente inversas, se tomarmos como exemplo o Marrocos e o Brasil.

É a partir desse paradigma de diálogo dos costumes sociais que esses trabalhos tornam-se importantes. Utilizando-se do palco pretensamente neutro da arte contemporânea, eles propõem reflexões, nem sempre prazerosas, de uma ironia e sarcasmo essenciais para uma sociedade induzida pela mediocridade de novelas e domingões dos faustões. Não se pretende fazer necessariamente uma apologia do crime, mas discuti-lo. Pensar sobre o que é crime e por que alguns atos o são, pois até mesmo matar alguém se torna aceitável se o Estado o faz através de uma pena de morteTanto a arte quanto o crime são praticados por motivações diversas, que variam desde a necessidade da prática, o prazer da execução e até mesmo uma afirmação pessoal.
Dentro dessa gama de motivos para cometer crimes existem as questões financeiras/sociais como o roubo para saciar a fome, que nas cidades grandes são pequenos furtos e nas zonas rurais um roubo de galinhas. Já nas classes mais abastadas e no poder político, o crime se configura cruelmente através da corrupção, do desvio de verbas e principalmente da perpetuação da desigualdade social e da exploração do trabalho humano, crimes de difícil tipificação.

A criminalidade também se configura por razoes emotivas, assassinatos passionais, violência doméstica e até mesmo furtos de objetos de desejo. Outro motivo a ser considerado é a doença, justifiquem-se aí os cleptomaníacos, os tarados bizarros e psicopatas afins. Enfim, como diz meu tio, "a humanidade nunca decepciona: se tiver algo pior para ser feito, vai ser".

Essa curadoria também levanta uma velha e defasada discussão sobre se as obras são ou não arte. Uma pintura hoje, qualquer coisa pintada sobre uma superfície, ninguém questiona se é ou não arte. Pode-se dizer que é ruim, mas é arte.

Realmente essa discussão é meio brega, mas no caso desta exposição ela levantada com muita força. É uma exposição na qual só a certeza do discurso artístico vai eximi-la das penas da lei . É obrigatória a performance do convencimento, de si mesmo até. Se você não tiver convicto, ninguém vai estar.

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Artista plástico Athos Bulcão morre em Brasília (DF) aos 90 anosO arquiteto, escultor, pintor, desenhista e mosaicista Athos Bulcão morreu em 31/07/08. São Athos tem uma série de obras em igrejas e monumentos de Brasília. Criou painéis artísticos em países como França, Itália, Argélia, Argentina e Cabo Verde. Mais: www.fundathos.org.br.
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Madrid Abierto 2009-2010, na Espanha, recebe inscrições de projetos até 10/09/08Projetos de intervenções artísticas e de arte sonora e audiovisual para serem apresentados na Casa de América e no Círculo de Bellas Artes. Os projetos serão apresentados no mesmo período da feira espanhola de arte contemporânea Arco, em fevereiro de 2010. Mais: www.madridabierto.com
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Bolsas de Incentivo Griô_Inscrições até 15 de agosto. Mestres de tradição oral, que estejam envolvidos em parceria com escolas e/ou universidades públicas, com a finalidade de preservar e fomentar a cultura oral nacional existente, para o fortalecimento da identidade e ancestralidade dos estudantes brasileiros. Mais: www.cultura.gov.br

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